31 de dez. de 2006

De férias no Eldorado

Se não existisse o Rio, o que seria de nós? Todos querem ir para o Rio. Um dia o curitibano abre as janelas para a Guanabara, desperta a mulher que dorme com ele e vai para a praia. A mulher também é intelectual, lê só livros estrangeiros, faz poemas ou é atriz de cinema. Quando volta da praia e almoça, chega o editor. Entrega-lhe um cheque enorme e implora pelos originais. O intelectual curitibano entrega-os sob promessa de receber, além do sinal de contrato, dez por cento sobre o preço de capa. À tarde há um giro pelas galerias de arte, visita amigos, dá autógrafo no elevador. Um só, porque tem pressa: dali a pouco haverá uma estréia e ele é convidado especial. A mulher que está ao seu lado já não é a mesma (quem seria a que o acompanhava na galeria de arte?); é outra, longos cabelos, alta, parece que um manequim francês. À saída, coquetel e esticada na boate. (...) Assim sonham os pobres diabos intelectuais nas madrugadas curitibanas, depois do segundo gole. Sonho sonhado à custa de bebida barata, paga pelo amigo.

JAMIL SNEGE, “Tempo Sujo”
















Pois é, estou no Rio. Depois eu digo mais.

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