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Teatro
“Wenn man ins Theater geht wie in die Kirche oder in den Gerichtssaal, oder in die Schule, das ist schon falsch. Man muß ins Theater gehen wie zu einen Sportsfest”.(Bertolt Brecht, Schriften 1, Suhrkamp Verlag, pág.56)
“Nada a ver ir ao teatro como se fôssemos a uma igreja, a um tribunal ou a uma escola. Bora ir ao teatro como quem vai a um evento esportivo”.
Eletrizante como uma boa luta Na peça "Box’s", escrita e dirigida por Andrew Knoll, a saga do pugilista Tito Palito mostrou-se repleta de humor e criatividade Tanto as mostras de teatro, como as provas públicas da Faculdade de Artes do Paraná, reservam sempre boas surpresas aos seus espectadores. Peças como "Angel City" e "Parasitas", realizadas no ano passado, exemplificam o que estou dizendo. Na última semana (entre 30/11 a 3/12) tivemos novamente algumas peças da FAP pela cidade e, entre elas, destaco a montagem de “Box’s’”, prova de direção do formando Andrew Knoll, que aconteceu na Casa Vermelha, no Largo da Ordem. Descrita de forma indigesta como uma “tragédia-love-pop-cult-spagetti-coração-latin-ítalo-peperone” no e-mail de divulgação, o termo bem ou mal sintetiza o que foi esse espetáculo. Acima de tudo, Box’s era uma tragédia de amor nos moldes de um filme “b”, daqueles de pancadaria que passavam (ainda passam?) no “Domingo Maior”, porém dispensando a violência e o sangue habituais. Andrew dirigiu, escreveu e atuou nessa peça que trata de um boxeador chamado Tito Palito (Nawbert Cordeiro), o qual luta por dinheiro nos porões escuros do “Tóquio Boxe Show”. “Aqui em Tóquio é foda”. (trecho de "Box's") Lá ele peleja com seu eterno adversário, o Peperoni (Ricardo Juchem), flerta com a oportunista Daniela (Cláudia Spunked) e é adulado tanto pelo dono do “Tóquio” (Andrew Knoll), como pela Mídia Vampiresca (Fernanda Albanaz). Mas apesar de ser um lutador de talento, uma verdadeira promessa do esporte, Tito é um sujeito em crise e possui uma dificuldade de existir no mundo – mundo esse apocalíptico, diga-se de passagem, uma terra devastada como a de "Mad Max”. (Pensando bem, “Box’s” tem muito desse filme, como de outros do gênero). O desamparo de Tito fica ainda maior quando sua amante, a gostosona Judy (Verônica Rodrigues), lhe dá um pé na bunda. Tito então pensa em se matar, pensa também em matá-la e, no final, é o que acaba fazendo. Todavia, isso não é narrado simples assim, de forma linear. A trama é cheia de saracoteios e flashbacks e, pelo menos eu, só fui entendê-la melhor depois de assistir a peça três vezes. Não que eu seja um abilolado completo (pode ser também), mas é que a montagem era tão criativa, engraçada, tão cheia de detalhes, que era impossível apreender aquilo tudo de uma vez só. No final de cada apresentação dava vontade de assisti-la novamente, tanto para perceber algo novo, como para dar boas gargalhadas. Um grande mérito de Box’s foi mesmo o seu senso de humor “trash”, porém apurado ao mesmo tempo, bem feito. Sem contar que, além de fazer rir, a peça apresentou imagens bastante inventivas e poéticas também. “O fundo do poço não é tão longe. O fundo do poço está à distância de um tropeço”. Compor um ringue vivo para as lutas do “Tóquio Boxe Show”, por exemplo, com atores sustentando fitas elásticas, feito aquela brincadeira que as crianças, sobretudo as meninas, faziam, lembram? Pular elástico? Genial. Algo tão simples e, ao mesmo tempo, complicado. Os quatro atores que formavam esse quadrado, que por vezes assumia outras formas e se desmontava, tiveram que realizar uma verdadeira coreografia com aquelas fitas. Além dessa idéia do ringue, houve muitas outras de grande imaginação, do tipo fazer os lutadores brigarem feito um jogo de Atari, ou então quando Judy arrebenta um bracelete de “pérolas” e além das bolinhas que se espalham pelo chão, outras gigantes (de isopor) “caírem” do céu. Interessante observar também a importância da interação do público para essa montagem que já começava, não gratuitamente, como uma “balada”. Knoll pretendeu enxotar a nossa passividade a princípio criando essa atmosfera de uma boate, com os atores nos incentivando a dançar com eles. Mais tarde seríamos transformados realmente em torcedores à beira do ringue e, por fim, tudo se encerraria como no início: uma festa. Eis o exemplo de um teatro vibrante.
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