28 de set. de 2009

Perfil)))
O CAMINHO ATÉ O TOPO
Aconselhado pelo pai a desistir da carreira de goleiro, Ricardo Marques enveredou pelo caminho da arbitragem, até chegar este ano à elite da Fifa


"Entrar na Fifa é como, para um jogador, ser convocado para a seleção brasileira." Ricardo Marques, árbitro

Nos tempos de menino, em Belo Horizonte, ele sonhava em ser um goleiro profissional. Defendendo metas de times aqui e ali, o garoto comprido e magrelo então atingiu a glória de vestir a camisa número 1 do Vila Nova Atlético Clube. Tudo ia bem, até que um dia o seu pai lhe chamou de canto e disse a real: "Você até que é um bom goleiro. Mas está longe de ser excelente. Insistir na carreira assim é ilusão..."

A verdade, difícil de engolir, foi aceita pelo jovem de 16 anos. Ao mesmo tempo, um professor o incentivou a fazer um curso de árbitro. Afinal, quando o guri não estava debaixo da trave, ele organizava campeonatos e apitava jogos na escola. Levava jeito pra coisa. "E foi assim que comecei. Meio por acaso, mas logo me descobri na profissão", conta Ricardo Marques, 30 anos, o árbitro que apitou a final da última Copa do Brasil. Depois de fazer seu primeiro curso, ficou no futebol amador por cinco anos. "É ali que você enfrenta as maiores adversidades, o que te dá inteligência e coragem depois no campeonato profissional".

Em 2004, mesmo ano em que se formou como jornalista, Marques ingressou no quadro da CBF. A conquista maior lhe chega em 2009. No dia 5 de janeiro, ele está com o pai, abastecendo o carro em um posto, quando o celular toca. Pelo telefone, um amigo lhe dá os parabéns, contando que acabou de ver o nome dele na internet, admitido na lista de árbitros da Fifa. Marques então abraça o velho e compartilha a boa nova: "Seu filho agora é internacional!"

A vida, porém, não fica mais fácil depois disso. Trazer o brasão da Fifa no peito, por exemplo, não implica estar apenas nos melhores jogos - "você pode apitar até a série C, se for o caso" - e é preciso manter a performance em alto nível para não se perder o posto. "É bom frisar que não 'somos' Fifa. 'Estamos' Fifa." Se por um lado os ganhos duplicam (a CBF paga cerca de R$ 1,5 mil por jogo; pela Fifa são R$ 2,8 mil), a responsabilidade do árbitro quadruplica, opina Marques.

Para o bem e para o mal, ele também viu surgir a fama. Em Belo Horizonte, é reconhecido nas ruas e algumas pessoas até lhe pedem autógrafos. "Hoje represento o meu estado, Minas Gerais, na arbitragem internacional. Isso tem um peso e é importante pra mim. Mas não chego a ser um ídolo. Para o torcedor, sempre somos os carrascos", diz Marques, resignado, mas com bom humor. Como goleiro, ele nunca chegaria tão longe.

*Reportagem publicada na Gazeta do Povo, em 23/08/09

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