9 de ago. de 2008

Especial Break)))
Até acabar a pilha
Nas noites de sábado, o piso de granito do Itália vira palco para as batalhas de dança entre os b-boys
Foto: Franco Fuchs

Roda de break já virou atração turística.

Um sábado à noite no centro de Curitiba. Por volta das 19h, b-boys e b-girls de diversas partes da cidade começam a se reunir em frente ao Shopping Itália.

Entre um papo e outro, alguém então passa o boné e o pessoal faz uma vaquinha para a compra de oito pilhas grandes. Como não há uma tomada disponível no local, são essas pilhas que alimentarão um daqueles rádios portáteis, à moda antiga, que é trazido por algum b-boy de boa vontade.

(Sem existir uma organização formal que regule esses encontros, às vezes acontece de ninguém trazer o som. O que tira muito a graça da noite, mas não impede que os b-boys aproveitem para trocar idéias ou exibam mutuamente os movimentos que treinaram durante a semana).

Democracia na roda
Assim que a música começa a tocar, os b-boys se dispõem em círculo e, de instantes em instantes, um deles toma a iniciativa e vai para o centro da roda de break.

O b-boy começa fazendo o toprock, uma dança em pé na qual ele apresenta o seu estilo, e só depois desce para o footwork, em que ele dança com as mãos apoiadas no chão, agachado sobre os calcanhares. Depois de desenvolver passos variados, normalmente o dançarino termina sua performance com um freeze, isso é, “congelando” um movimento, ao que é imediatamente substituído por outro b-boy.

Como a reportagem pôde verificar, a roda de break é um espaço democrático, em que qualquer pessoa tem a oportunidade de entrar e dançar. Basta um mínimo de coragem ou cara-de-pau para não se intimidar com os olhares atentos de quem fica em volta. Independente de dançar bem ou mal, todo mundo é sempre incentivado com aplausos.

Batalha de b-boy
Diferente das improvisações descompromissadas que acontecem na roda e que são abertas a todos, quando dois b-boys ou duas crews (grupos organizados de b-boys) decidem instaurar uma “batalha”, a dança fica restrita a esses dois lados que vão duelar. E isso só termina quando alguém ou um grupo se dá por vencido (o que demora) ou por algum outro motivo externo, como quando acabam as pilhas do rádio, por exemplo.

“Nessa hora é como se o outro que está dançando fosse meu inimigo”, reconhece o b-boy Émerson “Piolho” sobre esses momentos de competição. Tais pelejas costumam ser tão catimbadas, que quem assiste a um “racha” pela primeira vez pode até ter a impressão de que uma briga de verdade vai estourar a qualquer momento.

Porém não é o que acontece. Os b-boys explicam que as poses de mau e a postura aguerrida de alguns são parte do jogo e, no geral, quando acaba a roda, tudo fica em paz.

Uma paz que significa, é bom frisar, camaradagem, ausência de violência, e não uma interrupção das batalhas. Embates futuros são sempre estimulados, seja para o “perdedor” tirar a desforra ou para o “vencedor” confirmar a sua supremacia no break. Isso faz os b-boys treinarem ainda mais, o que só eleva o nível de todos.

Marcadores: , , , , ,