28 de set. de 2009

Arbitragem)))
PROFISSÃO NÃO RECONHECIDA



Eles são professores, policiais, comerciantes, empresários... A maioria dos árbitros possui outra ocupação. Isso porque a arbitragem não é considerada oficialmente uma profissão e não proporciona renda fixa. (Eles recebem por jogo e a quantidade deles varia no mês. A escalação dos árbitros é feita por sorteio - algo que eles criticam, pois a escolha não favorece os melhores -, e eles ainda podem ficar suspensos caso cometam erros graves em partidas anteriores.)“A própria Fifa não nos aconselha a depender do dinheiro da arbitragem”, lembra Evandro Rogério Roman, que atua paralelamente no ensino de educação física. “Mas se não somos profissionais legalmente, a nossa postura é profissional”, garante Ricardo Marques, que termina um curso de direito e trabalha em um Fórum em Minas Gerais.

Cada um então se vira por conta própria, seja para se manter financeiramente e para estar bem treinado. Quem chega em um nível internacional, precisa fazer no mínimo duas horas e meia de exercícios diários, explica Roman, para manter o condicionamento físico. Em uma partida, relata Simon, um árbitro hoje corre entre 12 e 14 quilômetros - mais do que muitos jogadores. “Eu que tenho 43 anos, estou meio na capa da gaita, então tenho que treinar mais do que os jovens, porque ainda quero estar entre os melhores”, diz Simon.

Todos concordam igualmente que gravar os jogos apitados e estudá-los depois em casa, revendo erros e acertos, é outra prática essencial para o árbitro evoluir tecnicamente. Mas tão importante quanto ter toda essa aplicação, é fundamental para um árbitro contar com o apoio da família. “Senão ninguém aguenta a pressão. Os familiares são os únicos que permanecem contigo independente do que acontecer no jogo”, diz Roman.

O "GOL" DO ÁRBITRO
Para entrar em campo, diante milhões de espectadores na TV, milhares de torcedores no estádio e ainda comandar 22 marmanjos, o sujeito tem que ser “um pouco louco”, diz Roberto Braatz. “Tem que curtir muito esse desafio, porque todos são contra você. O sujeito não pode ser normal.”

O maior prazer do árbitro então é quando todo esse circo termina e ele percebe que saiu ileso. “Você tem uma espécie de orgasmo prolongado depois do jogo, quando sente que foi bem em campo e a comissão de arbitragem confirma isso fazendo uma boa avaliação sua”, diz Evandro Rogério Roman.

Apitar um lance difícil é também como fazer um “gol”. “Quando você aplica bem a lei da vantagem e sai um gol dessa jogada, é um prazer enorme”, confidencia Ricardo Marques.

Outra parte boa da carreira, segundo eles, é a vida cigana. “Já campeei esse mundo todo afora. A Fifa me proporcionou isso. Você conhece o planeta, através da arbitragem”, lembra Carlos Eugênio Simon, que em breve irá para o Egito, apitar no mundial sub 20, junto com o assistente Roberto Braatz.

O FUTURO DA ARBITRAGEM
Com a evolução da tecnologia, muito se discute se o futebol poderia adotar mais equipamentos de ponta que viessem melhorar o jogo e sua arbitragem. Mas diante de sugestões como a utilização de bolas com chips internos, que ajudariam os árbitros a marcar ou anular gols, eles mesmos são contra muitas inovações.Acertadamente, segundo eles, a Fifa já é uma entidade que não costuma alterar tanto o futebol, a fim de que o esporte se mantenha universal. “O uso de câmeras no auxílio da arbitragem, como acontece no futebol americano, por exemplo. É inviável, porque nem todos os lugares do mundo poderiam utilizar isso”, lembra Roberto Braatz.

Na opinião de Paulo César Oliveira, melhor do que se investir em tecnologia, é investir na capacitação do árbitro, que assim pode apitar melhor, sem precisar de apetrechos tecnológicos.Comentando sobre a situação atual da arbitragem brasileira, os árbitros entrevistados também parecem satisfeitos. “O arbitragem no Brasil está mais democrática. Temos bons árbitros de vários estados apitando e não ficamos mais restritos só aos dos grandes centros”, diz Roman.

Tanto Oliveira como Roman lembram que a fiscalização sobre a lisura da arbitragem também aumentou, depois do escândalo da “máfia do apito” em 2005, que revelou a manipulação de jogos feita por Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon. “Pelo bem da arbitragem brasileira esse processo criminal [no momento paralisado na justiça, e a um passo da impunidade] dos envolvidos não pode parar. Isso tudo ainda tem que ser esclarecido”, afirma Roman.

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