7 de mar. de 2010

Luiz Caldas)))
Deboches e fricotes do lado de fora do TCA

Na manhã de domingo, faltaram poltronas no Teatro Castro Alves para acomodar toda a legião de fãs de Luiz Caldas. Tietes que ficaram de fora do show protestaram com bom humor

Enquanto do lado de dentro do Teatro Castro Alves (TCA) o músico Luiz Caldas mostrava a sua versatilidade, no show “Toda Música de Luiz Caldas”, mesclando música erudita, rock e axé, do lado de fora do teatro o público que não conseguiu entrar no recinto mostrava toda a sua indignação.

Por volta das 10h30 de domingo, com o fim dos ingressos (que custavam R$ 1, dentro do projeto Domingo no TCA), os portões do teatro foram fechados – meia hora antes de o show começar. “Eu vou quebrar a cara do sujeito que trabalha aí e que disse que ainda haveria ingresso às dez horas”, bradava, diante do portão, um homem exaltado, que tentava negociar com uma atendente a sua entrada no teatro. “Vim aqui às 9 horas e não me deixaram pegar o ingresso e voltar para casa para tomar um banho. E agora quando eu volto não tem mais como comprar”, explicava. Segundo os atendentes do TCA, a prática de só vender ingressos para quem permanece dentro do teatro é adotada para impedir a ação de cambistas.

Bem menos raivosas, mas ainda sim bastante decepcionadas, estavam as irmãs Evanildes e Maria da Graça Silva. “Estamos frustradas. Foi meia hora de carro para chegar aqui e nada”, conta a pedagoga aposentada Maria da Graça, 60 anos. “Eu, minha irmã e minhas amigas somos todas fã antigas, do tempo de dançar o ti, ti, ti [diz ela, fazendo os passos de dança]. E do tempo em que o Luiz não gostava de andar de sapato”, lembra a enfermeira aposentada, Evanildes, 64. “Agora ele só anda calçado. Coitado, também ficou velho, juntou calo, não aguenta mais as agruras do solo”, brinca a enfermeira. “Se bem que, para a idade, ele ainda está bem sexy. Ainda dá algum caldo”, opina Maria da Graça.

Corpo a corpo com os seguranças
“Pega ela aí... Pra quê? Pra passar batom... Que cor?...” Na entrada lateral do TCA, batendo palmas, cantando e dançando, outras fãs tentavam persuadir os seguranças, para que eles liberassem a entrada. Na linha de frente, puxando o protesto, as “luiz caldetes” Margareth Lunna e Maria Lúcia se destacavam literalmente no maior “deboche” (nome como também era conhecido o estilo de música de Caldas). “Olha, sou empresária da costura, poderosa, estou solteira... Deixa eu entrar, segurança!”, dizia Maria, de 59 anos, que chegou ao TCA após as 10h30. “E pensar que fui vizinha do Luiz, em Vitória da Conquista. Meu irmão José Bonfim era amigão dele, e eu não posso ver o show”, contava ela, triste.

“Eu bem que poderia dar um carteiraço para entrar aqui, mas preferi apenas protestar”, disse a artista plástica Margareth, de 46 anos, indignada. “Poxa, sou artista reconhecida na Itália, meu ex-marido já tocou percussão com o Luiz, e eu ainda vim vestida especialmente para o show!”, argumentava, mostrando a sua saia “fricote”, tirada do fundo do baú. “Essa saia eu usava nos antigos shows dele. Deve ter uns 24 anos. E veja só, ainda cabe direitinho!”, contava, requebrando em frente ao TCA.

Meia hora depois de o show ter começado, os gritos de “Luiz Caldas, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”, emitidos por Margareth e demais fãs ainda ecoavam perdidos pelo Campo Grande. Mas em vão. A organização do TCA se manteve irredutível em sua resolução de não colocar nenhuma pessoa no teatro além do número de poltronas disponíveis.

Já quem chegou cedo e pôde conferir o artista não teve do que reclamar. “Showzaço”, “maravilhoso” e “muito bom” foram alguns dos adjetivos ouvidos pela reportagem sobre a apresentação.

***

Luiz Caldas, meu parente



Em Curitiba, já perdi a conta das vezes em que ouvi esta pergunta: “E esse sobrenome Caldas? Você é parente do Luiz Caldas? Aquele da Tieta... que dançava descalço...?” Mesmo duvidando muito dessa possibilidade, sempre gostei de responder com um absoluto “sim”. Ainda mais que meu bisavô Aristides Caldas era baiano...

Pois bem. Para acabar de vez com esse dilema, levei a questão à pessoa certa. No fim do show de Luiz Caldas, lá estou eu, no camarim do Teatro Castro Alves, aguardando a minha vez para trocar uma ideia com ele. O acesso ao camarim, vale dizer, foi graças à Margareth Lunna, que literalmente me empurrou para dentro do teatro ao fim da apresentação, e graças à compositora
Juliana Ribeiro, que conhece o Luiz e também estava por lá.

Depois de uns vinte minutos de espera, chega a hora de eu conhecer pessoalmente o “pai da axé music”, que daquele visual antigo, de quando cantava “Tieta” ou “Fricote” nos anos 80, hoje, não carregada quase nada. Com um piercing no nariz, e todo vestido de preto – do all star, passando pela calça jeans, a camiseta e as unhas – o estilo de Luiz é o de
um roqueiro moderno. E é esse sujeito completamente repaginado que me recebe com um caloroso aperto de mão.

Em poucos minutos então resumo para ele o meu dilema: “Sou jornalista, de Curitiba, e lá todo mundo me pergunta se somos parentes. O que você acha?” Ao que ele responde, rindo: “Ora, quem sabe?
O ramo da família é muito grande. Por que não?”, diz Luiz, que depois pacientemente ainda dá um autógrafo ao “Franco Caldas, amigo e parente!” – palavras dele.

Publicado no Jornal TiraGosto em 09/03/10

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