28 de set. de 2009

Vale-tudo)))
Leia a entrevista com o lutador de vale-tudo Wanderlei Silva. Em agosto, a Gazeta do Povo publicou em primeira mão a notícia de que ele esteve em Curitiba, fazendo uma cirurgia de reconstrução do nariz: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/conteudo.phtml?id=913617

A ilustração acima é do grande Benett.

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Especial)))
A MAÇONARIA DO APITO
Foto: Assessoria de Imprensa FPF

Vida de árbitro de futebol não é fácil, mas tem suas recompensas. Reunidos em um evento em Curitiba, juízes iniciantes e do quadro da Fifa revelaram os principais desafios e prazeres da carreira

Curitiba virou a capital da arbitragem de futebol entre os dias 12 e 14 de agosto, ao sediar, pela primeira vez, fora do eixo Rio - São Paulo, testes da Fifa para juízes e um curso de aprimoramento promovido pela CBF.

Se fosse com a outra “seleção” seria diferente, mas como não era a dos que jogam bola, e sim a dos que apitam o jogo, não houve furdunço de fãs e jornalistas diante do hotel em que se hospedaram os melhores árbitros do Brasil.
A maçonaria do apito ficou ainda mais completa no dia 14, quando houve também a abertura solene do Curso de Árbitros Profissionais da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Assim, jovens árbitros iniciantes que fazem esse curso em Curitiba estiveram lado a lado de árbitros tarimbados.

Diante de quase 100 juízes reunidos no Hotel Master Express, este repórter aproveitou para fazer algumas investigações. Do tipo: o que leva esses indivíduos a enfrentar a fúria das torcidas e os demais percalços da carreira, que nem sequer é reconhecida oficialmente como profissão? Qual seria o grande prazer de se apitar um jogo? E é possível alguém nascer querendo ser árbitro?

Foto: Franco Fuchs

Jovens árbitros, alunos do curso da FPF.

O DESPERTAR DA VOCAÇÃO
Pelos relatos ouvidos, são poucos os que sonham em ser árbitros desde criancinha, tal como a Jassiara Simões, 23 anos, que faz o curso da FPF. No caso dela, como o pai é árbitro, ela conta que o acompanhava nos jogos desde os dois anos de idade, e achava tudo aquilo o máximo. Com o tempo, o interesse pela carreira só aumentou e aos 18 ela já apitava no futebol amador. Hoje seu maior sonho é ingressar na CBF e, quem sabe um dia, fazer parte da Fifa, feito conquistado pela árbitra Maria Eliza Correia, que também circulava pelo hotel.

De resto, a maioria descobre a vocação só ao longo do tempo. Muitos foram “projetos” de jogadores de futebol, que depois perceberam na arbitragem uma forma de finalmente serem bem sucedidos entre as quatro linhas, tal como relatam Carlos Eugênio Simon (“joguei bola até meus 19 anos”) e Roberto Braatz (“fui zagueiro até os 26”), ambos da Fifa.

Há ainda outras situações, como a de Evandro Rogério Roman, também da Fifa, que revela nunca ter tido a ilusão de ser jogador e nem pensava em ser árbitro quando jovem. De início, ele queria conhecer as regras de futebol a fundo para ir bem no seu curso de educação física - hoje ele é doutor na área, pela Unicamp. Mas após fazer cursos, apitar e passar em um teste para árbitro da CBF em 1995, resolveu apostar na carreira. “Sinto que a vida me levou nessa direção e eu abracei isso”, diz Roman.

PAIXÃO PELO FUTEBOL
Os motivos que levam as pessoas à arbitragem variam. Por outro lado não muda muito o perfil psicológico desses indivíduos, que normalmente têm características em comum. O espírito de liderança é uma delas. O árbitro é aquele que organizava os jogos da gurizada no bairro (feito o Rafael Vieira Martins, que faz o curso da FPF) ou era representante de turma na escola (o caso de Paulo César Oliveira, da Fifa).

O apreço pela disciplina é outro sinal marcante e não é à toa que existem árbitros ligados ao Exército (como o Marcos Souza, do curso da FPF) ou à Polícia (a exemplo de Djalma Beltrami, da CBF, Tenente-coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro).Mas entre outras características, a mais importante que os une é o respeito e paixão pelo futebol. “Claro que é sensacional ver a bola rolando. Dá vontade de meter o pé também”, diz Carlos Eugênio Simon, revelando que, por trás da postura fria do árbitro, existe um sujeito tão empolgado quanto os jogadores.

Mas como lembra Robert Gessner, 19 anos, do curso da FPF: “é preciso deixar essa emoção no subconsciente, senão você está frito com a torcida.” Simon, porém, não vê problema de cumprimentar um jogador que faz uma bela jogada. “Você pode fazer isso, desde que mantenha a linha. Eu cumprimentei o Robinho depois das pedaladas que ele deu no jogo contra o Corinthians, em 2002, que o Santos venceu”, lembra.

Mas um árbitro assumir que possui um time do coração ainda é um tabu no futebol. “O nosso time é segredo de estado. A única camisa que você passa a vestir é a da arbitragem”, diz Ricardo Marques, da Fifa. Ele também reconhece que, à medida que um árbitro se depara com os bastidores do esporte, ele perde as ilusões típicas dos torcedores fanáticos. “Você vê que o jogo é mais um negócio e às vezes isso te desanima, principalmente o comportamento de dirigentes que não honram a história dos clubes.”Ainda sobre a impossibilidade de o árbitro assumir publicamente o seu time, Roberto Braatz faz uma crítica. “Por que um jogador de futebol pode dizer que tem um time do coração e um árbitro não pode fazer o mesmo? Ambos são profissionais e sabem separar as coisas. Mas conosco não existe tolerância.”

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