9 de ago. de 2008

Especial)))
O break no Itália
Em Curitiba, um dos locais mais importantes para o break (um dos quatro elementos do movimento hip hop) fica situado no espaço de um shopping
Foto: Franco Fuchs

Break rola desde o início dos anos 80 no Itália.

Meses atrás, o assunto ganhou destaque nos noticiários. No bairro Portão, jovens vestidos no estilo hip hop foram barrados no mais novo shopping da cidade: o Palladium.

Em compensação, praticamente ninguém lembrou que, no centro de Curitiba, outro grupo de jovens com características parecidas se reúne todo sábado à noite, sob a cobertura do Shopping Itália, sem a menor crise.

E isso acontece desde que o shopping foi inaugurado, em 1983, quando os primeiros b-boys (dançarinos de break) curitibanos, como Vilmar, “Aranha” e “Carioca”, elegeram o piso de granito do Itália como o melhor lugar para dançar.

“A jam session [sessão de improviso] do Itália é uma das mais antigas do Brasil e do mundo em atividade”, informa o b-boy Wagner “Baqueta” aos desavisados. Segundo ele, ao longo do tempo muitos redutos tradicionais do break foram se extinguindo, enquanto o espaço no Itália continua firme, atraindo b-boys e b-girls de todos os cantos, sejam eles da velha ou da nova geração.

Patrimônio do hip hop
Considerado, portanto, um verdadeiro patrimônio cultural do hip hop, o Itália é muito bem preservado por todos os b-boys que dele fazem uso. “É um ambiente familiar. Aqui não rola bebida e praticamente nem cigarro”, diz Baqueta, sendo que esse discurso não é só da boca para fora, como a reportagem testemunhou.

O mais interessante é que essa “abstinência”, ao invés de ser imposta, é algo natural para esses b-boys que levam a sério o que fazem e por isso não ousam comprometer suas performances sob os efeitos do álcool ou do tabaco.

Os b-boys revelam que também se esforçam para que nenhum estranho use outras drogas diante do Itália ou piche o espaço que eles tanto lutaram para conquistar.

Por conta disso, a relação que possuem com a direção do shopping é tranqüila. “Não temos nenhum acordo formal com esses jovens, mas mantemos um bom convívio com eles”, diz Silvio Chultiz, da imobiliária responsável pelo prédio do Itália, lembrando que nunca houve reclamação pela presença dos b-boys.

Unidos nessa simbiose, ganham o break, que mantém sua arte viva no coração da cidade, e o shopping, que vira uma espécie de atração turística, mesmo fechado no sábado à noite.

*Publicado no Jornal TiraGosto e na Revista Idéias de agosto

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