29 de nov. de 2008

Idioma)))
O homem-show da língua alemã
Bastian Sick, o colunista de gramática que se transformou em fenômeno da mídia, faz turnê pela América do Sul


Autor é best-seller em países germânicos com livros que tratam sobre gramática de forma bem-humorada.

Imagine se o professor Pasquale Cipro Neto realizasse uma turnê por países da Europa, em hipotéticos institutos Machado de Assis. Eis uma comparação fantasiosa, mas que talvez dê uma idéia do que representa a vinda do jornalista e escritor alemão Bastian Sick para o Brasil e outros países da América do Sul.

No dia 30 de outubro, Bastian lotou o auditório do Instituto Goethe em Curitiba, onde apresentou uma de suas palestras-show sobre questões espinhosas do idioma alemão.

Bastian Sick é hoje o comentarista da língua alemã mais famoso no mundo. Fenômeno da mídia, ele assina uma coluna sobre gramática na revista Spiegel e apresenta shows em teatros e na televisão. Entre seus livros publicados, que já venderam mais de quatro milhões de exemplares, o mais conhecido é O dativo é a morte do genitivo (Der Dativ ist dem Genitiv sein Tod), dividido em três volumes. Bastian também lançou CDs, um DVD e até um jogo educativo, tendo o idioma como mote.

Trajetória

Na palestra em Curitiba, além de transformar em comédia uma conversa sobre erros freqüentes da língua, Bastian contou ao público um pouco sobre sua vida. Nascido em 1965, no norte da Alemanha, em Lübeck, Bastian disse que desde pequeno já gostava de escrever. Foi ator nos tempos de colégio e inclusive escreveu algumas peças teatrais, cujos papéis principais acabavam sendo, invariavelmente, representados por ele.

Filho de professores, quando jovem pensava em seguir a mesma profissão dos pais. Porém, depois que se formou em História e Romanística, acabou trabalhando como revisor e tradutor de revistas em quadrinhos, até ingressar, em 1995, na revista Spiegel, um dos semanários mais importantes da Europa, na função de arquivista.

Tempos depois, promovido a revisor da Spiegel online, surgiria por acaso a oportunidade que mudaria a sua carreira. Naquela época, Bastian enviava, por conta e risco, e-mails bem-humorados aos colegas, aplicando neles sutilmente alguns puxões de orelhas gramaticais.

Tais e-mails chegariam ao conhecimento do editor da revista, que gostou do que leu e o convidou para escrever uma coluna sobre dúvidas da língua. Bastian topou o desafio e em maio de 2003 estreava a coluna Zwiebelfisch (literalmente “Peixe-cebola”, é uma expressão usada em gráficas para dizer que há erro de tipologia em uma palavra; com esse nome, na verdade, Bastian alude a palavras que são usadas de forma incorreta). Foi o início do fenômeno Bastian Sick, que em 2006 chegou a reunir 15 mil pessoas em um ginásio para a “maior aula de alemão do mundo”, devidamente registrada pelo Guinness Book.

O segredo da popularidade
Mais do que passar lições sobre a língua, os textos e as apresentações de Bastian são verdadeiras crônicas humorísticas, repletas de reflexões e provocações.

“O que Bastian faz é mostrar que todos cometem erros com o idioma, mas ele não fica só criticando. Ele faz tudo com humor, com alegria. Ele não é um professor, é mais um entertainer”, diz o austríaco Rüdiger Wetzl, professor de alemão e inglês.

“O objetivo maior dele é que as pessoas tenham mais consciência sobre o que lêem e escrevem. A mensagem que ele deixa é que não se deve ter medo da língua. Língua é alegria”, afirma Rüdiger, que assistiu à palestra de Bastian em Curitiba.

Mas com todo o sucesso e os fãs que conquistou, Bastian viu surgir também uma série de críticos ao seu trabalho. Artigos buscando apontar onde o corretor de alemão havia escorregado pulularam na mídia e neste ano até um livro foi publicado para rebatê-lo: Doente com o Sick? Um passeio pela língua como resposta à coluna Zwiebelfisch (Sick of Sick? Ein Streifzug durch die Sprache als Antwort auf den Zwiebelfisch), do professor André Meinunger, da Universidade de Leipzig.

Diante disso, pergunto a Bastian como ele se sente quando é corrigido. Naturalmente ele responde que também tem dificuldades para ouvir uma crítica, mas afirma que sempre tenta refletir sobre o que dizem dele. Sobre os acadêmicos que policiam os seus passos, ele reconhece que muitos estudam profundamente a língua e sabem do que falam. “Mas não conseguem fazer o que eu faço”, diz. “Eles não são engraçados. Eles são cientistas e cientistas são chatos.”


*Reportagem publicada na Revista Idéias n°85

Marcadores: , , , ,