29 de ago. de 2007

+ Teatro
A Escócia não fica na Europa
Companhia Amok transporta a tragédia do general Macbeth para um novo universo
Foto: Denise Benevides

Criados por Stéphan Brodt, os figurinos fundem elementos do vestuário de diversas culturas orientais.

Pelo menos na montagem de Macbeth realizada pela companhia carioca Amok Teatro, a Escócia que serve de pano de fundo para a tragédia shakespeariana não é a mesma que figura nos mapas oficiais. Nesta nova configuração, a Grã-Bretanha inteira deve ficar em algum lugar na Ásia.

A peça – que estreou em 2004 –, esteve em cartaz em Curitiba no Teatro da Caixa, na sexta-feira e sábado passados (24 e 25), e impressionou pela forma com que fundiu elementos de várias culturas, sobretudo asiáticas, ao invés de tentar reproduzir um clima britânico medieval.

Basta olhar para a foto acima e perceber, por exemplo, os exóticos figurinos de Macbeth (Stéphane Brodt, à esq.) e Banquo (Ricardo Damasceno, dir.).

Busca pelo essencial
Outra característica interessante da montagem dirigida por Ana Teixeira foi a capacidade de enxugar tanto o texto, como personagens (cerca de 30 no original, eles foram reduzidos a 10) e cenário (um fundo vermelho e um tapete).


Apesar de ser uma peça soturna, na qual aparecem bruxas e fantasmas, tampouco há fumaça, luzes ou sombras excessivas, nem outros recursos estrambóticos.

O fulcro da peça é mesmo o trabalho dos atores e o texto de Shakespeare, que foi muito bem manejado e também acrescido de algumas interjeições e pequenas cantorias em uma língua estranha, provavelmente inventada.

O peso do texto shakespeariano
Mesmo assim, toda essa simplicidade sofisticada e criativa não impediu que em vários momentos o sono – temido por Macbeth (depois que assassinou o rei enquanto este dormia) e por qualquer diretor – acabasse capturando uma pequena parcela do público.

Vale levar em consideração que talvez esses dorminhocos tivessem acordado cedo ou então não estivessem acostumados a ouvir tantos personagens imersos em prolixas conjeturas, como de praxe ocorre nas peças do bardo inglês.

Ana realmente não teve culpa se alguém “pescou” ou se impacientou ao longo do espetáculo, afinal inclusive para sacudir a platéia, ela fez os atores em diversos momentos entrarem e saírem do palco pelos corredores do teatro, passando ao lado das poltronas.

Sem falar que a fantástica trilha sonora ao vivo também contribuía para que nos mantivéssemos bem despertos.


Foto: Denise Benevides

À esq., o multiinstrumentista Carlos Bernardo.

Trilha sonora é outro destaque da montagem
Composta e executada pelo multiinstrumentista Carlos Bernardo, a trilha sonora de Macbeth merece parágrafos à parte. Segundo o programa da peça, Carlos toca 17 instrumentos, oriundos de 13 países - do bongô cubano ao saz (instrumento de corda) turco.


Carlos permanece o tempo todo em cena, no geral sentado em seu cantinho como sonoplasta, mas ainda se levanta às vezes para encarnar um personagem músico. Sua trilha além de fornecer um colorido especial à peça, complementa e enriquece a narrativa da história.


Retrospectiva Amok Teatro
Grupo carioca trouxe a Curitiba três espetáculos e uma oficina

Foto:Renata Colaço

Stéphan Brodt encarna Artaud no monólogo Cartas de Rodez.

Desde o dia 24, a companhia carioca Amok Teatro está na cidade. O grupo apresentou a já citada Macbeth e a peça Savina (que trata sobre o universo cigano) no dia 26.

Além disso, ao longo dessa semana a companhia ministra uma oficina de trabalho corporal e improvisação, e apresenta o monólogo Cartas de Rodez (sobre o período, de 1943 a 1946, em que Artaud esteve internado no manicômio de Rodez) na próxima sexta, sábado e domingo (31, 1º e 2/8) no Teatro da Caixa.

Sobre a companhia
Criada em 1998 por Ana Teixeira e pelo francês Stéphan Brodt, a Amok Teatro fundamenta seus trabalhos principalmente sobre as teorias de Etienne Decroux (1898 -1991) e Antonin Artaud (1896 - 1948).


O grupo já recebeu os prêmios Shell e Mambembe pela montagem de Cartas de Rodez (1998), e o prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro pelo espetáculo O Carrasco (2000).

O nome Amok vem do título de um conto do escritor austríaco Stefan Zweig. Essa palavra de origem malaia significa uma espécie de raiva que pode acometer uma pessoa e levá-la a praticar atos violentos e impensados.

Para saber mais sobre a companhia, visite o site
www.amokteatro.com.br .

Serviço
Cartas de Rodez. Dias 31, 1º e 2/9, sexta-feira e sábado às 21 horas, domingo às 19 horas. Ingressos a R$ 16 e R$ 8 (clientes, idosos e estudantes), à venda no Teatro da Caixa. Informações pelo tel. 2118-5111.

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