12 de jun. de 2007

+ Cinema

Drama açucarado
Personagens e conteúdos pouco aprofundados enfraquecem Não Por Acaso, primeiro longa-metragem de Phillippe Barcinski


Rodrigo Santoro compensa as lacunas do roteiro com uma boa atuação.

Com o seu primeiro longa-metragem Não por Acaso (em cartaz em diversos cinemas da cidade), o diretor Phillippe Barcisnki quis fazer um filme elaborado, inteligente e ao mesmo tempo popular.

Pelo menos assim foi divulgado em matérias e entrevistas por aí. E lembro de ter ouvido também que o roteiro desta película demorou cerca de 5 anos para ser acertado.

Pois é, o resultado desse empenho todo e dessa proposta meio pop, meio cabeça, infelizmente ficou aquém do esperado. Culpa do malfadado roteiro e de uma falta de ousadia do diretor.

A princípio, a temática do filme e seus personagens principais são interessantes. Através de duas histórias paralelas, a de um construtor de mesas de bilhar e a de um engenheiro de trânsito, questiona-se a possibilidade ou não de controlarmos os nossos destinos.

Entretanto, na prática, faltou desenvolver melhor uma porção de coisas.


Desenvolvimento de temas e personagens
Vejamos o caso do personagem de Leonardo Medeiros, que faz o papel de Ênio, o controlador de sinais de trânsito. É um sujeito quarentão, que vive sozinho e possui uma filha (Rita Batata) a qual ele não assumiu.

Isso é praticamente tudo o que o filme nos fornece sobre ele. Não há maiores detalhes sobre como foi o seu relacionamento com a sua ex-mulher (Graziella Moretto) nem há explicações sobre os motivos dele não ter assumido a filha.

Quanto à suposta explicação criativa que ele dá sobre o fluxo do trânsito e a atração dos corpos – Ênio cita o princípio dos vasos comunicantes, fala de partículas atômicas etc. –, ela é apenas esboçada.

O chefe de Ênio inclusive pede a ele que apresente essa sua teoria na forma de um artigo que seria utilizado pela empresa deles. Mas Ênio não termina o texto e o assunto morre por aí.

Com relação à história de Pedro, o homem da sinuca interpretado por Rodrigo Santoro, o grau de (sub)desenvolvimento desse personagem é equivalente.

Sabemos que ele é um sujeito suburbano, com pouca escolaridade, e que assumiu o negócio das mesas de bilhar que era do seu pai. E só.

Tudo bem que através de pequenas atitudes, como quando ele se nega a abrir uma porta nova no seu estabelecimento ou quando ele se mostra avesso a participar de campeonatos de sinuca, por exemplo, Pedro demonstra que é um sujeito conservador, reservado e com uma certa dificuldade de interagir com o mundo.

Porém isso ainda é muito pouco, insuficiente, para conferir uma real densidade ao personagem.

Sobre a namorada de Pedro, a típica estudante de antropologia fã do Chico Buarque, vivida por Branca Messina, e a businesswoman feita por Letícia Sabatella, são mais duas figuras sumariamente desenvolvidas (inclua-se também nesse rol a filha adolescente de Ênio) e ainda por cima bastante estereotipadas.


O que segura as pontas
O filme se sustenta minimamente porque Leonardo Medeiros e Rodrigo Santoro, como protagonistas, trabalharam muito bem, conseguindo preencher com bastante dignidade as lacunas do roteiro.

Leonardo apresenta uma interpretação serena, taciturna e ao mesmo tempo cativante como o típico lobo da estepe.

Rodrigo Santoro, por sua vez, mantém o tempo todo uma feição amarfalhada, ombros para dentro... é praticamente um matuto. Lixa suas madeiras com afinco e no pano verde mantém a pinta de profissional.

Ao final de Não Por Acaso, portanto, há pouco a se festejar - como a direção de fotografia de Pedro Farkas, por exemplo. Ainda mais com o forçado happy end, moldado para trazer um alento completamente desnecessário ao espectador. Desaconselhável para diabéticos.

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