7 de set. de 2007

+ Teatro
A arte de sugar o próximo
Companhia Silenciosa volta a encenar Parasitas, espetáculo que compara relacionamentos afetivos ao parasitismo biológico


Em Parasitas, a maquiagem é um elemento que se destaca. Não por acaso. “Quando eu li a peça, senti que aqueles personagens sofriam tanto, que imaginei sangue saindo da cabeça deles”, diz a maquiadora Léo Glück. Léo então fez questão de marcar os atores com feridas vermelhas e também enrolou os pescoços deles com fita adesiva.

Há dois anos, eu estava um dia na biblioteca do Instituto Goethe quando, súbito, gritos estridentes irromperam do lado de fora da sala. “O que será que está acontecendo?”, perguntei, assustado, à bibliotecária. Ao que ela respondeu tranqüila: “Ah, é só o grupo que está ensaiando uma peça no auditório”. Esse grupo, ironicamente, se chamava Companhia Silenciosa, e a peça que ensaiava era Parasitas, do dramaturgo alemão Marius von Mayenburg.

A peça, então inédita no país, estreou oficialmente no final de 2005 na Casa Hoffmann, e por fim seria montada no Ateliê de Criação Teatral (ACT), dentro do festival de Teatro de Curitiba em 2006.

Agora, com um elenco diferente, Parasitas ressurge em curta temporada no Teatro Cleon Jacques, de 6 a 16 de setembro (quinta a domingo, às 20h). O ingresso para o espetáculo é uma lata de leite em pó.


Quem são os parasitas
Repleto de humor negro, o drama de Marius von Mayenburg retrata momentos difíceis, de mudança, na vida de um jovem que foi atropelado.
Com o acidente, Ringo (Wagner Correa) fica paraplégico e passa a questionar se sua esposa Betsi (Giorgia Conceição) ainda lhe ama.

Ao mesmo tempo, sua cunhada Friderike (Ana Ferreira), que está grávida e também vive um período de crise com o marido Petrick (Angelo Cruz), vai morar em sua casa.

Como se isso não bastasse, além de ter de suportar a parente indesejada, Ringo começa a receber visitas inoportunas de Multscher (Adolfo Pimentel), o velho solitário que o atropelou e que agora deseja ser seu amigo.

Eis os “parasitas” a que o título da peça se refere, visto serem pessoas que mantêm relações mútuas de exploração psicológica.


Mas além dos personagens citados, o diretor Henrique Saidel revela que criou para a montagem uma nova figura, inexistente no texto original: “A peça possui milhares de rubricas dizendo: choro; caem lágrimas. Em quase todos os personagens e em vários momentos, o que eu acabei cortando”, diz ele. “Então peguei todo esse choro e coloquei num personagem só”, o qual batizou de O espírito da Alemanha que chora, interpretado por Nina Rosa Sá.

O espírito, que apenas fica vagando pelo palco sem dizer palavra alguma, “serve para catalisar toda a pungência da peça”, afirma o diretor.

Serviço
Parasitas, de 6 a 16 de setembro (quinta a domingo), às 20h, no Teatro Cleon Jacques – Parque São Lourenço. Ingresso: uma lata de leite em pó. Informações: 3313-7190.

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