+ Teatro
+ Reportagem Especial
Quando todos são “autores”
O processo de criação coletiva não é o mais utilizado em Curitiba, mas prova que é capaz de gerar bons resultados
Muito popular nos anos 60 e 70, o sistema de “criação coletiva” de um texto teatral hoje é utilizado em uma escala bem menor pelos grupos existentes em Curitiba. Mesmo assim, a peça vencedora do Prêmio Gralha Azul de melhor espetáculo em 2007 teve seu texto construído a partir da colaboração de uma equipe.
Segundo o diretor Roberto Innocente, diretor da premiada Aconteceu no Brasil enquanto o ônibus não vem, a peça surgiu das pesquisas do grupo A Arte da Comédia sobre a commedia dell’arte – gênero italiano surgido no século XVI, famoso pelo uso de máscaras.
Com o objetivo de montar um espetáculo que abordasse a realidade e os problemas brasileiros, todos os integrantes da Arte da Comédia passaram a trazer material teórico sobre o assunto. Depois, Roberto escreveu um roteiro, de acordo com ele “bem simples”, que foi utilizado como base para improvisações dos atores. “Daí é que surgiram tanto as piadas como as referências históricas da peça, e o texto então foi construído com os atores já em cena”, diz Roberto, que posteriormente apenas organizou e burilou o resultado final.
A diretora e dramaturga Sueli Araújo, que também utiliza um método parecido em sua companhia, a CiaSenhas de Teatro, ressalta, entretanto, que essa forma de criar um texto difere um pouco da que era empregada nas décadas de 60 e 70. “Antigamente, nesse teatro coletivo havia uma questão ideológica de se romper com as hierarquias. Todos faziam tudo e era uma posição contra um teatro burguês que existia”, afirma. “Hoje, ao invés de uma ‘criação coletiva’, é mais correto dizer que existe um ‘processo colaborativo’, em que os componentes de um grupo se articulam para criar um conceito juntos”, explica. “No período de preparação de uma montagem, um diretor levanta propostas que são discutidas por todos, assim como um ator interfere no texto do dramaturgo e este pode interferir na cena do ator. Porém, no fim, as funções de cada pessoa são bem delimitadas, ao contrário do que acontecia no passado”.
A “criação coletiva” na história
Na história do teatro, a criação coletiva já estava presente principalmente no gênero da commedia dell’arte, surgido na Itália do século XVI, visto que as peças eram construídas a partir das improvisações dos atores. Bem mais tarde, na década de 60 do século XX – também por circunstância dos movimentos contraculturais que eclodiam, valorizando a coletividade e a anarquia –, a criação coletiva começou a ser utilizada por grupos de vanguarda como o Living Theatre, nos Estados Unidos, e o Théâtre du Soleil, na França.
O Living Theatre, em especial, visitou o Brasil nos anos 70 e trouxe essa influência ao Teatro Oficina, do diretor José Celso Martinez Corrêa. Um pouco depois apareceram grupos como o carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone (que revelaria gente como Regina Cazé e Evandro Mesquita) e o paulistano Pod Minoga (de onde sairia o ator Carlos Moreno, o eterno garoto propaganda da Bombril) que também fizeram uso da criação coletiva.
Em Curitiba, segundo a professora da Universidade Federal do Paraná, especialista em dramaturgia brasileira, Marta Morais da Costa, esse processo coletivo começou a ser empregado no final dos anos 60, por grupos experimentais que se apresentavam no Teatro de Bolso – pequeno teatro que ficava na praça Rui Barbosa – e pelo grupo Escala, do diretor Oraci Gemba.
+ Reportagem Especial
Quando todos são “autores”
O processo de criação coletiva não é o mais utilizado em Curitiba, mas prova que é capaz de gerar bons resultados
Muito popular nos anos 60 e 70, o sistema de “criação coletiva” de um texto teatral hoje é utilizado em uma escala bem menor pelos grupos existentes em Curitiba. Mesmo assim, a peça vencedora do Prêmio Gralha Azul de melhor espetáculo em 2007 teve seu texto construído a partir da colaboração de uma equipe.
Segundo o diretor Roberto Innocente, diretor da premiada Aconteceu no Brasil enquanto o ônibus não vem, a peça surgiu das pesquisas do grupo A Arte da Comédia sobre a commedia dell’arte – gênero italiano surgido no século XVI, famoso pelo uso de máscaras.
Com o objetivo de montar um espetáculo que abordasse a realidade e os problemas brasileiros, todos os integrantes da Arte da Comédia passaram a trazer material teórico sobre o assunto. Depois, Roberto escreveu um roteiro, de acordo com ele “bem simples”, que foi utilizado como base para improvisações dos atores. “Daí é que surgiram tanto as piadas como as referências históricas da peça, e o texto então foi construído com os atores já em cena”, diz Roberto, que posteriormente apenas organizou e burilou o resultado final.
A diretora e dramaturga Sueli Araújo, que também utiliza um método parecido em sua companhia, a CiaSenhas de Teatro, ressalta, entretanto, que essa forma de criar um texto difere um pouco da que era empregada nas décadas de 60 e 70. “Antigamente, nesse teatro coletivo havia uma questão ideológica de se romper com as hierarquias. Todos faziam tudo e era uma posição contra um teatro burguês que existia”, afirma. “Hoje, ao invés de uma ‘criação coletiva’, é mais correto dizer que existe um ‘processo colaborativo’, em que os componentes de um grupo se articulam para criar um conceito juntos”, explica. “No período de preparação de uma montagem, um diretor levanta propostas que são discutidas por todos, assim como um ator interfere no texto do dramaturgo e este pode interferir na cena do ator. Porém, no fim, as funções de cada pessoa são bem delimitadas, ao contrário do que acontecia no passado”.
A “criação coletiva” na história
Na história do teatro, a criação coletiva já estava presente principalmente no gênero da commedia dell’arte, surgido na Itália do século XVI, visto que as peças eram construídas a partir das improvisações dos atores. Bem mais tarde, na década de 60 do século XX – também por circunstância dos movimentos contraculturais que eclodiam, valorizando a coletividade e a anarquia –, a criação coletiva começou a ser utilizada por grupos de vanguarda como o Living Theatre, nos Estados Unidos, e o Théâtre du Soleil, na França.
O Living Theatre, em especial, visitou o Brasil nos anos 70 e trouxe essa influência ao Teatro Oficina, do diretor José Celso Martinez Corrêa. Um pouco depois apareceram grupos como o carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone (que revelaria gente como Regina Cazé e Evandro Mesquita) e o paulistano Pod Minoga (de onde sairia o ator Carlos Moreno, o eterno garoto propaganda da Bombril) que também fizeram uso da criação coletiva.
Em Curitiba, segundo a professora da Universidade Federal do Paraná, especialista em dramaturgia brasileira, Marta Morais da Costa, esse processo coletivo começou a ser empregado no final dos anos 60, por grupos experimentais que se apresentavam no Teatro de Bolso – pequeno teatro que ficava na praça Rui Barbosa – e pelo grupo Escala, do diretor Oraci Gemba.
Marcadores: Criação Coletiva, Francofonia, Teatro
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home