16 de abr. de 2011

Festival de Curtiba))) Confira essa reportagem para o jornal CORREIO* sobre os grupos baianos que enfrentaram o desafio de participar da mostra Fringe na 20ª edição do Festival de Curitiba.



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10 de abr. de 2011

UMA FATIA DO MAIOR FESTIVAL DE TEATRO DO BRASIL /// Do que assisti ao longo do 20º Festival de Curitiba, encerrado hoje, a peça Sonhos Para Vestir foi a montagem que mais me encantou, com sua simplicidade sofisticada e macia. Pra quem deseja uma sinopse dessa peça montada no aconchego do Teatro Paiol, resumo do meu jeito. A atriz Sara Antunes se transforma numa mitológica Ariadne. E com suas palavras nos guia entre um labirinto inconsciente, rumo ao encontro de nossos sonhos. Eles podem ser desde uma viagem a Paris – para fazer compras e comer carne, como sugeriu uma espectadora –, ou um reencontro com alguém querido. Como o pai de Sara. Muitas das memórias que a atriz guarda dele compõem esse enredo singelo, tecido também com a participação do público, muito à maneira como ela já fazia na peça Negrinha. Vida e poesia, “uma bordada na outra”, é o que testemunhei nessa sábia montagem dirigida por Vera Holtz, que espero rever, quem sabe, em Salvador.////////// PALAVRAS, CAVALOS SELVAGENS////////// Nesse meu pequeno balanço do festival também destaco outro monólogo: O Livro, interpretado por Eduardo Moscovis, com direção de Cristiane Jatahy. No Barracão do Cietep Moscovis deu vida ao igualmente poético texto de Newton Moreno, fazendo isso com um despojamento semelhante ao que apresenta em Corte Seco, peça dirigida também por Jatahy. Entre suspiros femininos, Moscovis anunciava: ele era um homem que perderia a visão diante de nossos olhos. E assim palavras projetadas num rolo de papel gigante se esvaíram como miragens ao som de Wild Horses. Como sobreviver à perda do referencial visual, que ordena quase tudo e constrói a nossa identidade? A pergunta feita por Moscovis foi ouvida também por um casal de cegos que acompanhava a montagem. A reposta só eles sabiam. ////////////BARTLEBY É PARTITURA/////////// Sobre a experiência de assistir a Prefiro Não?, de Denise Stoklos, digo que foi um tanto estranha pra mim. A expectativa era grande, e quando Denise começou a peça com um monte de tiradinhas engraçadinhas, fiquei desapontado. Me parecia stand up comedy sem graça, mas que provocava frouxos de riso na maioria das pessoas. As mesmas que deliraram, aposto, com Os 39 Degraus. Apesar de me incomodar com isso, aos poucos fui admirando outras coisas. De fato essa adpatação de Denise para a novela Bartleby, de Herman Melville, era bem diversa à que eu tinha assistido antes, numa montagem de Joaquim Goulart. Achei interessante Denise ir para um caminho didático, contextualizando o texto e seu autor ao público e colocando o livro como objeto cênico, já que o nome Bartleby estava impresso em estantes de partitura espalhadas pelo palco. E por mais que eu não tenha curtido certas piadas, gostei de ver Denise potencializar a subersividade do amanuense Bartlebly,mexendo no texto ao seu prazer. Mas, acima de tudo, foi um prazer vê-la também ‘dançar’ a peça. A sombra de Denise, gigantesca, se movendo como um espírito de Michael Jackson (viagem minha!) no fundo do palco, perto do fim do espetáculo, dava bem a dimensão da consagrada atriz iratiense, em grande forma aos 60 anos.///////////NEUROSE E SEXO///////// Eu ouvia Perry Farrell cantar na minha cabeça: “Conheci uma garota/ que nunca teve/ orgasmo...”, tão logo começou a peça Inverno da Luz Vermelha e sua história começou a se desenrolar. Diante da neurose e da impotência do escritor Mateus (Rafael Primot), eu fiquei pensando nisso, na força libertadora do orgasmo. Mais tarde voltei a pensar sobre o assunto sob o prisma do livro Medo da Vida, de Alexander Lowen... Mas voltando à peça, enquanto o músico Davi (André Frateschi) é o absoluto dionisíaco, o escritor Matheus é um socrático neurótico, incapaz de fazer amor livremente. Cada um a seu modo, os dois amigos lidam com o sexo de maneira extrema, da mesma forma que a prostituta e cantora Christina (Marjorie Estiano). No fim, todos pagam caro por isso. O texto de Adam Rapp tem uma pegada forte mesmo, com a ameaça inesperada do HIV, e aborda questões delicadas que todos conhecem em alguma medida. Na direção do espetáculo, Monique Gardenberg fez um belo trabalho conduzindo essa história com humor na medida, bom gosto e sem exageros. ////////// AMIZADE DESTRUTIVA /////////// Quanto à relação de amizade parasitária dos amigos, foi interessante ver uma variante disso na peça Um Coração Fraco, através dos personagens Vassia (Caio Blat) e Arkadi (Cadu Fávero). Enquanto Vassia é um amanuense que não consegue dizer não ao trabalho - bem diferente de Bartleby -, e é consumido por ele, Arkadi é um folgazão, prestes a entrar no vácuo da relação de Vassia com Lisanka (Isabel Guéron). Isso se a relação não pifasse com o esgotamento mental de Vassia. A ideia presente na peça, de que a felicidade pode ser insuportável para certas pessoas, é de fato provocadora. Porém o formato da montagem, muito certinha e convencional, não foi capaz de me sacudir muito não. Mesmo assim, fiquei contente de ver a Priscila Rozenbaum lá na saída do Guairinha, na posição de diretora, materializando aquela velha adaptação de Dostoievski de que ela já falava como personagem do filme Separações, do maridão Domingos de Oliveira.

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