20 de jun. de 2008

Festival Internacional de Londrina)))


*Leia a matéria sobre o FILO na Revista Idéias de julho

Entrevista)))
A construção do sonhoFoto: Milton Dória

Eugenio Barba (foto) fala sobre o processo de criação do espetáculo Andersen’s Dream

E
m entrevista coletiva na quarta feira (18), o diretor Eugenio Barba, 71 anos, líder do grupo Odin Teatret, contou um pouco sobre o processo de criação do espetáculo Andersen’s Dream, em cartaz no FILO nos dias 19, 20 e 21 no espaço Vila Cultural Kinoarte.

Segundo Eugenio, ao invés de partir de uma dramaturgia já pronta, as peças do Odin Teatret surgem através de alguns questionamentos propostos pelo diretor e de pesquisas sobre determinados temas.

No caso de Andersen’s Dream, o grupo pesquisava em 
2004 sobre a escravidão negra no período colonial (assunto que estava sendo levantado pela UNESCO naquele período).

Além disso, como em 2005 seriam celebrados os 200 anos de Hans Christian Andersen, Barba achou por bem aproveitar a biografia do escritor dinamarquês.

Eugenio revela que, apesar de Andersen ser um dos autores mais populares no mundo, principalmente por contos como A roupa nova do rei e O patinho feio, ele ainda não conhecia a fundo a obra de autor. Na infância, por exemplo, a mãe de Eugenio não costumava lhe contar contos de fada, mas sim histórias de origem greco-romana, como sobre o cerco de Tróia, por exemplo.

Porém, assim que começou a pesquisar sobre Andersen, o Barba ficou fascinado com o que descobriu. O escritor
veio de uma família muito pobre e precisou trabalhar muito até atingir a fama.  

Por fim, o conceito de Andersen’s Dream tomaria forma quando Barba encontrou um texto presente em um diário de Andersen. Nele o autor descrevia um de seus sonhos, no qual era convidado a navegar tranquilamente com um rei em seu barco mas, em determinado momento, percebia que estava em outra embarcação, transformado em escravo.

Era a ligação que faltava para unir o tema da escravidão com Hans Christian Andersen. Entretanto, como ressalta Barba, o conteúdo da peça não busca apresentar didaticamente aspectos históricos da escravidão ou então abordar diretamente a biografia de Andersen. A peça parte desses temas para criar um clima onírico, em que tudo se mistura com uma linguagem poética, simbólica.

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18 de jun. de 2008

Resenha)))
Sem medo do pastelão
Em Fragments, Peter Brook surpreende o público valorizando acima de tudo a veia cômica de Samuel Beckett

Act without words II, com Marcello Magni (carregando os sacos) e Khalifa Natour (dentro de um deles)
.

O FILO mal começou no dia 4 de junho e no mesmo dia os ingressos da peça Fragments simplesmente evaporaram. Natural para um espetáculo que é dirigido por ninguém menos do que uma lenda viva do teatro mundial, o inglês Peter Brook.

Felizmente, uma sessão extra dessa montagem construída a partir de textos curtos de Samuel Beckett foi organizada no dia 17 e foi a essa sessão que este resenhista compareceu.

Em um palco quase nu, sem cortinas e com pouquíssimos objetos cênicos, a peça começa com o texto de Rough for Theatre. Dos bastidores, com o palco iluminado, surgem os atores Marcello Magni e Khalifa Natour, que irão interpretar um aleijado e um cego, respectivamente, que se encontram numa esquina fria e cinzenta.


De início, a atuação dos atores é um pouco morna, sem muito impacto, mas aos poucos o público vai sendo envolvido à medida que os personagens revelam os seus dramas – a ponto de o aleijado perguntar ao cego por que ele não se deixa morrer, diante de uma vida tão miserável. Ao que este responde, roubando risos da platéia: “não sou infeliz o suficiente”.


A certa altura, os dois pobres diabos decidem se unir, juntando seus débeis corpos, de modo que um possa suprir a deficiência do outro. Um emprestaria a visão, o outro a locomoção. Mas é claro que a tentativa fracassa e os dois acabam travando uma briga patética. Tudo é cômico e triste ao mesmo tempo. Como a condição humana.

Após isso, o espetáculo adquire um clima bem mais sério e introspectivo quando passa para o fragmento Rockaby, monólogo apresentado pela atriz Hayley Vilatte. Em Rockaby a atriz narra a história de uma mulher solitária, que fica a olhar as janelas a sua frente, na esperança de que pelo menos uma delas se abra e alguém apareça. Hayley demonstra bastante concentração, transmite uma angústia impressionante da personagem, porém parte do público parecia deveras enfadado (o mesmo aconteceria mais tarde, quando Hayley interpretou o conto Neither) com o hermetismo do texto. Sem dúvida, a atriz foi responsável pelos momentos mais sérios da noite, mostrando o que Beckett tem de mais triste e amargo.

De Rockaby, o espetáculo passa para Act without words II, em que Marcello e Khalifa entram em cena novamente, para delírio do público - que ao final de Rough for Theatre já estava nas mãos deles.

Não houve quem não tenha se identificado com os tipos que eles interpretaram, os quais todo santo dia acordam, fazem suas abluções, comem, trabalham, voltam pra casa, rezam e dormem, enfim, tudo sempre igual, ad aeternum. A diferença é que o personagem de Khalifa parece feliz com essa vida metódica, regulada, e o de Marcello não.

Na sequência, o espetáculo retorna para um tom mais introspectivo na interpretação do já citado conto Neither, e termina com um trecho da peça Come and Go. O humor então volta a invadir a sala do Teatro Filo quando Hayley, Marcello e Khalifa se transformam nas três amigas (neste trecho pinçado por Brook elas já são três velhas caquéticas) inseparáveis e mexeriqueiras. O público ri à beça – principalmente por ver Marcello e Khalifa vestidos de mulher – e, no fim, retribui as muitas risadas com aplausos na mesma proporção.

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