28 de set. de 2009

A MENSAGEM NA GARRAFA
Foto: Bo Stridsberg

Conheça a história do engenheiro florestal sueco que, com seus “toka trekkos” (mini estufas confecionadas com garrafas PET), desperta a atenção dos curitibanos para a ecologia.

O perfil de Bo Stridsberg foi publicado na Gazeta do Povo e republicado nos jornais O Globo Online e Extra Online:

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=926933

http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2009/09/23/engenheiro-florestal-ensina-pelas-ruas-de-curitiba-como-reduzir-poluicao-dentro-de-casa-767735153.asp

http://extra.globo.com/pais/materias/2009/09/23/engenheiro-florestal-ensina-pelas-ruas-de-curitiba-como-reduzir-poluicao-dentro-de-casa-767735162.asp

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Vale-tudo)))
Leia a entrevista com o lutador de vale-tudo Wanderlei Silva. Em agosto, a Gazeta do Povo publicou em primeira mão a notícia de que ele esteve em Curitiba, fazendo uma cirurgia de reconstrução do nariz: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/conteudo.phtml?id=913617

A ilustração acima é do grande Benett.

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Especial)))
A MAÇONARIA DO APITO
Foto: Assessoria de Imprensa FPF

Vida de árbitro de futebol não é fácil, mas tem suas recompensas. Reunidos em um evento em Curitiba, juízes iniciantes e do quadro da Fifa revelaram os principais desafios e prazeres da carreira

Curitiba virou a capital da arbitragem de futebol entre os dias 12 e 14 de agosto, ao sediar, pela primeira vez, fora do eixo Rio - São Paulo, testes da Fifa para juízes e um curso de aprimoramento promovido pela CBF.

Se fosse com a outra “seleção” seria diferente, mas como não era a dos que jogam bola, e sim a dos que apitam o jogo, não houve furdunço de fãs e jornalistas diante do hotel em que se hospedaram os melhores árbitros do Brasil.
A maçonaria do apito ficou ainda mais completa no dia 14, quando houve também a abertura solene do Curso de Árbitros Profissionais da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Assim, jovens árbitros iniciantes que fazem esse curso em Curitiba estiveram lado a lado de árbitros tarimbados.

Diante de quase 100 juízes reunidos no Hotel Master Express, este repórter aproveitou para fazer algumas investigações. Do tipo: o que leva esses indivíduos a enfrentar a fúria das torcidas e os demais percalços da carreira, que nem sequer é reconhecida oficialmente como profissão? Qual seria o grande prazer de se apitar um jogo? E é possível alguém nascer querendo ser árbitro?

Foto: Franco Fuchs

Jovens árbitros, alunos do curso da FPF.

O DESPERTAR DA VOCAÇÃO
Pelos relatos ouvidos, são poucos os que sonham em ser árbitros desde criancinha, tal como a Jassiara Simões, 23 anos, que faz o curso da FPF. No caso dela, como o pai é árbitro, ela conta que o acompanhava nos jogos desde os dois anos de idade, e achava tudo aquilo o máximo. Com o tempo, o interesse pela carreira só aumentou e aos 18 ela já apitava no futebol amador. Hoje seu maior sonho é ingressar na CBF e, quem sabe um dia, fazer parte da Fifa, feito conquistado pela árbitra Maria Eliza Correia, que também circulava pelo hotel.

De resto, a maioria descobre a vocação só ao longo do tempo. Muitos foram “projetos” de jogadores de futebol, que depois perceberam na arbitragem uma forma de finalmente serem bem sucedidos entre as quatro linhas, tal como relatam Carlos Eugênio Simon (“joguei bola até meus 19 anos”) e Roberto Braatz (“fui zagueiro até os 26”), ambos da Fifa.

Há ainda outras situações, como a de Evandro Rogério Roman, também da Fifa, que revela nunca ter tido a ilusão de ser jogador e nem pensava em ser árbitro quando jovem. De início, ele queria conhecer as regras de futebol a fundo para ir bem no seu curso de educação física - hoje ele é doutor na área, pela Unicamp. Mas após fazer cursos, apitar e passar em um teste para árbitro da CBF em 1995, resolveu apostar na carreira. “Sinto que a vida me levou nessa direção e eu abracei isso”, diz Roman.

PAIXÃO PELO FUTEBOL
Os motivos que levam as pessoas à arbitragem variam. Por outro lado não muda muito o perfil psicológico desses indivíduos, que normalmente têm características em comum. O espírito de liderança é uma delas. O árbitro é aquele que organizava os jogos da gurizada no bairro (feito o Rafael Vieira Martins, que faz o curso da FPF) ou era representante de turma na escola (o caso de Paulo César Oliveira, da Fifa).

O apreço pela disciplina é outro sinal marcante e não é à toa que existem árbitros ligados ao Exército (como o Marcos Souza, do curso da FPF) ou à Polícia (a exemplo de Djalma Beltrami, da CBF, Tenente-coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro).Mas entre outras características, a mais importante que os une é o respeito e paixão pelo futebol. “Claro que é sensacional ver a bola rolando. Dá vontade de meter o pé também”, diz Carlos Eugênio Simon, revelando que, por trás da postura fria do árbitro, existe um sujeito tão empolgado quanto os jogadores.

Mas como lembra Robert Gessner, 19 anos, do curso da FPF: “é preciso deixar essa emoção no subconsciente, senão você está frito com a torcida.” Simon, porém, não vê problema de cumprimentar um jogador que faz uma bela jogada. “Você pode fazer isso, desde que mantenha a linha. Eu cumprimentei o Robinho depois das pedaladas que ele deu no jogo contra o Corinthians, em 2002, que o Santos venceu”, lembra.

Mas um árbitro assumir que possui um time do coração ainda é um tabu no futebol. “O nosso time é segredo de estado. A única camisa que você passa a vestir é a da arbitragem”, diz Ricardo Marques, da Fifa. Ele também reconhece que, à medida que um árbitro se depara com os bastidores do esporte, ele perde as ilusões típicas dos torcedores fanáticos. “Você vê que o jogo é mais um negócio e às vezes isso te desanima, principalmente o comportamento de dirigentes que não honram a história dos clubes.”Ainda sobre a impossibilidade de o árbitro assumir publicamente o seu time, Roberto Braatz faz uma crítica. “Por que um jogador de futebol pode dizer que tem um time do coração e um árbitro não pode fazer o mesmo? Ambos são profissionais e sabem separar as coisas. Mas conosco não existe tolerância.”

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Arbitragem)))
PROFISSÃO NÃO RECONHECIDA



Eles são professores, policiais, comerciantes, empresários... A maioria dos árbitros possui outra ocupação. Isso porque a arbitragem não é considerada oficialmente uma profissão e não proporciona renda fixa. (Eles recebem por jogo e a quantidade deles varia no mês. A escalação dos árbitros é feita por sorteio - algo que eles criticam, pois a escolha não favorece os melhores -, e eles ainda podem ficar suspensos caso cometam erros graves em partidas anteriores.)“A própria Fifa não nos aconselha a depender do dinheiro da arbitragem”, lembra Evandro Rogério Roman, que atua paralelamente no ensino de educação física. “Mas se não somos profissionais legalmente, a nossa postura é profissional”, garante Ricardo Marques, que termina um curso de direito e trabalha em um Fórum em Minas Gerais.

Cada um então se vira por conta própria, seja para se manter financeiramente e para estar bem treinado. Quem chega em um nível internacional, precisa fazer no mínimo duas horas e meia de exercícios diários, explica Roman, para manter o condicionamento físico. Em uma partida, relata Simon, um árbitro hoje corre entre 12 e 14 quilômetros - mais do que muitos jogadores. “Eu que tenho 43 anos, estou meio na capa da gaita, então tenho que treinar mais do que os jovens, porque ainda quero estar entre os melhores”, diz Simon.

Todos concordam igualmente que gravar os jogos apitados e estudá-los depois em casa, revendo erros e acertos, é outra prática essencial para o árbitro evoluir tecnicamente. Mas tão importante quanto ter toda essa aplicação, é fundamental para um árbitro contar com o apoio da família. “Senão ninguém aguenta a pressão. Os familiares são os únicos que permanecem contigo independente do que acontecer no jogo”, diz Roman.

O "GOL" DO ÁRBITRO
Para entrar em campo, diante milhões de espectadores na TV, milhares de torcedores no estádio e ainda comandar 22 marmanjos, o sujeito tem que ser “um pouco louco”, diz Roberto Braatz. “Tem que curtir muito esse desafio, porque todos são contra você. O sujeito não pode ser normal.”

O maior prazer do árbitro então é quando todo esse circo termina e ele percebe que saiu ileso. “Você tem uma espécie de orgasmo prolongado depois do jogo, quando sente que foi bem em campo e a comissão de arbitragem confirma isso fazendo uma boa avaliação sua”, diz Evandro Rogério Roman.

Apitar um lance difícil é também como fazer um “gol”. “Quando você aplica bem a lei da vantagem e sai um gol dessa jogada, é um prazer enorme”, confidencia Ricardo Marques.

Outra parte boa da carreira, segundo eles, é a vida cigana. “Já campeei esse mundo todo afora. A Fifa me proporcionou isso. Você conhece o planeta, através da arbitragem”, lembra Carlos Eugênio Simon, que em breve irá para o Egito, apitar no mundial sub 20, junto com o assistente Roberto Braatz.

O FUTURO DA ARBITRAGEM
Com a evolução da tecnologia, muito se discute se o futebol poderia adotar mais equipamentos de ponta que viessem melhorar o jogo e sua arbitragem. Mas diante de sugestões como a utilização de bolas com chips internos, que ajudariam os árbitros a marcar ou anular gols, eles mesmos são contra muitas inovações.Acertadamente, segundo eles, a Fifa já é uma entidade que não costuma alterar tanto o futebol, a fim de que o esporte se mantenha universal. “O uso de câmeras no auxílio da arbitragem, como acontece no futebol americano, por exemplo. É inviável, porque nem todos os lugares do mundo poderiam utilizar isso”, lembra Roberto Braatz.

Na opinião de Paulo César Oliveira, melhor do que se investir em tecnologia, é investir na capacitação do árbitro, que assim pode apitar melhor, sem precisar de apetrechos tecnológicos.Comentando sobre a situação atual da arbitragem brasileira, os árbitros entrevistados também parecem satisfeitos. “O arbitragem no Brasil está mais democrática. Temos bons árbitros de vários estados apitando e não ficamos mais restritos só aos dos grandes centros”, diz Roman.

Tanto Oliveira como Roman lembram que a fiscalização sobre a lisura da arbitragem também aumentou, depois do escândalo da “máfia do apito” em 2005, que revelou a manipulação de jogos feita por Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon. “Pelo bem da arbitragem brasileira esse processo criminal [no momento paralisado na justiça, e a um passo da impunidade] dos envolvidos não pode parar. Isso tudo ainda tem que ser esclarecido”, afirma Roman.

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Perfil)))
O CAMINHO ATÉ O TOPO
Aconselhado pelo pai a desistir da carreira de goleiro, Ricardo Marques enveredou pelo caminho da arbitragem, até chegar este ano à elite da Fifa


"Entrar na Fifa é como, para um jogador, ser convocado para a seleção brasileira." Ricardo Marques, árbitro

Nos tempos de menino, em Belo Horizonte, ele sonhava em ser um goleiro profissional. Defendendo metas de times aqui e ali, o garoto comprido e magrelo então atingiu a glória de vestir a camisa número 1 do Vila Nova Atlético Clube. Tudo ia bem, até que um dia o seu pai lhe chamou de canto e disse a real: "Você até que é um bom goleiro. Mas está longe de ser excelente. Insistir na carreira assim é ilusão..."

A verdade, difícil de engolir, foi aceita pelo jovem de 16 anos. Ao mesmo tempo, um professor o incentivou a fazer um curso de árbitro. Afinal, quando o guri não estava debaixo da trave, ele organizava campeonatos e apitava jogos na escola. Levava jeito pra coisa. "E foi assim que comecei. Meio por acaso, mas logo me descobri na profissão", conta Ricardo Marques, 30 anos, o árbitro que apitou a final da última Copa do Brasil. Depois de fazer seu primeiro curso, ficou no futebol amador por cinco anos. "É ali que você enfrenta as maiores adversidades, o que te dá inteligência e coragem depois no campeonato profissional".

Em 2004, mesmo ano em que se formou como jornalista, Marques ingressou no quadro da CBF. A conquista maior lhe chega em 2009. No dia 5 de janeiro, ele está com o pai, abastecendo o carro em um posto, quando o celular toca. Pelo telefone, um amigo lhe dá os parabéns, contando que acabou de ver o nome dele na internet, admitido na lista de árbitros da Fifa. Marques então abraça o velho e compartilha a boa nova: "Seu filho agora é internacional!"

A vida, porém, não fica mais fácil depois disso. Trazer o brasão da Fifa no peito, por exemplo, não implica estar apenas nos melhores jogos - "você pode apitar até a série C, se for o caso" - e é preciso manter a performance em alto nível para não se perder o posto. "É bom frisar que não 'somos' Fifa. 'Estamos' Fifa." Se por um lado os ganhos duplicam (a CBF paga cerca de R$ 1,5 mil por jogo; pela Fifa são R$ 2,8 mil), a responsabilidade do árbitro quadruplica, opina Marques.

Para o bem e para o mal, ele também viu surgir a fama. Em Belo Horizonte, é reconhecido nas ruas e algumas pessoas até lhe pedem autógrafos. "Hoje represento o meu estado, Minas Gerais, na arbitragem internacional. Isso tem um peso e é importante pra mim. Mas não chego a ser um ídolo. Para o torcedor, sempre somos os carrascos", diz Marques, resignado, mas com bom humor. Como goleiro, ele nunca chegaria tão longe.

*Reportagem publicada na Gazeta do Povo, em 23/08/09

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