Iniciantes ou veteranos, todos os dramaturgos concordam. Não é fácil expor um texto em processo e lidar com as críticas e sugestões inusitadas que surgem na oficina.
“Fico um pouco nervosa antes de ouvir os comentários dos colegas”, conta a dramaturga Pagu Leal, 34 anos, autora de, entre outras peças, Instruções para lavar roupa suja (2007) e Difícil amor (2004). “Ainda mais que não tenho o hábito de conversar muito sobre a minha criação. Sou daquelas que já leva o texto pronto aos atores. Esse diálogo com a turma então tem sido interessante. Um pouco traumático, às vezes, mas interessante.”
Para a dramaturga Giulia Crocetti, 20 anos, a situação é parecida. Mas ela acrescenta que, com o tempo, todos os integrantes da oficina vão ficando mais confortáveis com a ideia de se criticarem mutuamente. “Quando questionaram coisas da peça que estou escrevendo [Rebotalho, a primeira obra que ela pretende concluir], eu adorei. Levei numa boa. Perguntaram, por exemplo, qual era a finalidade de um trem que aparece na minha história [a locomotiva atormenta três personagens chamados A, B e C, que vivem em um futuro apocalíptico, explica a autora]. Percebi então que havia faltado clareza, o que me levou a repensar o que eu tinha feito.”
Também iniciante na dramaturgia, Otavio Linhares, 31 anos, é outro que lida bem com as críticas. “Afinal você não faz arte pra si mesmo, senão você fica em casa”, diz. “Sinto que as pessoas, quando comentam os trabalhos dos outros aqui, fazem com a intenção de ajudar, e não para jogar uma pá de areia.”
Mas quando julgamentos mais duros surgem, e eles sempre surgem, o próprio Alvim deixa claro aos dramaturgos. “Filtrem o que eu disser. Se algo faz sentido pra você, aproveite o conselho. Do contrário, esqueça. Às vezes falo coisas terríveis sobre algum texto, mas o autor insiste na sua ideia e depois me mostra algo surpreendente.”
* LEIA AQUI UMA CENA escrita pelo dramaturgo Otavio Linhares. É a parte final de sua peça (ainda sem título).