15 de abr. de 2009

Especial)))
Aqui tudo acaba em pizza
Lanches Itália completa quatro décadas alimentando avôs, pais e netos



Hora do rush no centro de Curitiba. O estalar de mil passos na calçada. Buzinas, motores de carros e ônibus. A sinfonia da cidade ressoa alto na rua Cândido Lopes. Sinfonia que se torna mais leve e adquire novos contornos no paraíso gastronômico do Lanches Itália.

Mas nada de tarantela ou sotaques itálicos por aqui. O que se ouve são pedidos famintos de: “Uma fatia de mussarela!”; “Uma fatia e uma vitamina!”; “Mais duas fatias!”; “E uma Laranjinha!”...

O paraíso revela-se um entra-e-sai danado, em que pessoas de todos os tipos dividem espaço nos balcões de alumínio. E assim, calóricas gostosuras são traçadas, por vezes em pé, em meio a paisagens turísticas italianas, que figuram em pôsteres pelas paredes de azulejo.

Dentro desse universo de imagens, aromas e sabores, o tempo não é bem o mesmo do resto da cidade. Aqui ele só pode ser mais lento, afinal, quatro décadas se passaram desde a inauguração da lanchonete, e ela continua praticamente a mesma.

Em compensação, entre uma fatia de mussarela e outra, não são poucos os que vêem os reflexos do tempo em si mesmos, diante dos espelhos do Lanches Itália.

“A gente vê pessoas que vinham aqui quando crianças, de calças curtas. Mal alcançavam o balcão. Hoje são adultos”, lembra Eliane Moro, funcionária do “Itália” há trinta anos. A própria Eliane viu seus quatro filhos crescerem na lanchonete. Agora também os seus netos vão comer pizza e visitar a avó no trabalho.



Freguesia fiel
Ao longo de 40 anos, o Lanches Itália conquistou uma legião de clientes fiéis. Feito a consultora de cosméticos Rosângela Barbosa, que até faz parte da comunidade da lanchonete no Orkut. Segundo ela, suas idas ao “Itália” começaram há uns 30 anos, época em que trabalhava por aquelas redondezas e ia lá com os amigos “comer uma pizza e tomar uma Wimi”.

O pecuarista Edson Amazonas é outro cliente de longa data, que vai à lanchonete quase toda semana, há mais de duas décadas. Desse hábito também partilhou o seu pai, “que até aos 90 anos, lanchou aqui”, conta Edson.

E como revela Antônio Simões, atual responsável pelo “Itália”, a lanchonete tem como freqüentadores assíduos uma série de pessoas influentes e políticos. “João Cláudio Derosso, Tito Zeglin e o Algaci Túlio são alguns que vêm aqui”. Outra figura ilustre que apreciou muito as delícias do “Itália” foi José Carlos Gomes de Carvalho, o “Carvalhinho” (empresário e político falecido em 2003). “Ele sabia até quando eu mudava o meu queijo mussarela”, diz Antônio.

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De Lucca para Curitiba

Inauguração do Lanches Itália em 1969. Ao lado da máquina de café, Bruno Birindelli é o primeiro à esquerda. Desatando o laço inaugural, o cônsul da Itália Gottardo Bottarelli
Falar em Lanches Itália é falar no italiano Bruno Birindelli, que depois da Segunda Guerra, assim como muitos de seus conterrâneos, deixou a cidade de Lucca, na Toscana, e migrou para o Brasil em busca de melhores oportunidades.

Bruno se instalou primeiro em São Paulo, onde chegou a montar um restaurante, mas logo desceu para Curitiba. Aqui, em meados da década de 50, teve a lanchonete Acrópolis e a cafeteria Sorriso do Paraná, trazendo para esses estabelecimentos máquinas de sorvete italiano e de café expresso, então novidades.

O Lanches Itália seria criado por Bruno em novembro de 1969, sob o edifício Brasilino Moura – chamado por alguns de “Tomara-que-caia”, pela sua arquitetura inclinada em direção à rua. Bruno só deixou o comando da lanchonete em 2000, aos 77 anos, quando passou a administração do negócio para seu genro Antônio Simões.

Desde então, pequenas reformas foram feitas na casa e alguns quitutes saíram do cardápio, mas a essência do Lanches Itália permanece a mesma. Para o bem de todos os seus freqüentadores, tudo ali ainda termina em boa pizza.

Serviço
Lanches Itália. Rua Cândido Lopes, 229. Aberto das 8 às 20h. Sábado até às 17h. Tel.: 3232-5175.

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Especialidades da casa


Pizza de mussarela
Como uma pizza de massa grossa, pouco molho, e que nem é assada em forno a lenha, pode ser tão gostosa? É um mistério. “Bruno dizia que essa receita era a que a mãe dele fazia para os filhos. O Bruno conta isso, mas eu digo a ele que não acredito”, diz o genro Antônio Simões, lembrando que na Itália não se fazem pizzas como essa, de massa grossa. “Eu brinco com o Bruno dizendo que, na verdade, quando ele foi fazer a primeira pizza, ele errou a mão, mas o povo gostou e acabou dando certo”. E como deu. A lanchonete chega a vender 100 pizzas de mussarela ao dia.



Vitamina de frutas
Pura delícia, a vitamina é a bebida campeã para se acompanhar uma fatia de mussarela. Leva mamão, abacate, morango e sorvete de creme.


*Reportagem publicada na Revista Ideias n. 88

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