28 de dez. de 2012


DONA CANÔ FALOU:

Segredo para viver bem:
“É não procurar ter inimigos nem querer ser superior aos outros.”

“Nunca tive sonhos. Nunca disse quero isso, quero aquilo, e hoje tenho tudo.”


Ser mãe:

"A mãe Canô é uma pessoa simples, que nunca teve nenhuma pretensão a não ser criar seus filhos para o bem. Tive um marido maravilhoso que contribuiu para a educação deles. Hoje, eles são o que são, mas são ainda família. Nunca, em momento nenhum, prejudiquei meus filhos. Nem com castigo nem com pancada." 

“Os filhos são todos iguais. Nenhum é diferente, nenhum é melhor do que o outro. Podem ter naturezas  diferentes, mas filho é filho.”

"Nunca obrigamos nenhum filho a ser o que não queria. Cada um seguiu a carreira que quis."

Sobre música:
“As músicas antigas, Caetano aprendeu comigo!” 
“A música é a coisa melhor do mundo, suaviza e dá vontade de viver."
"Caetano, venha ver aquele preto que você gosta!"
(Frase dita a Caetano sobre Gil, e que deu origem à canção Dona Canô Chamou, de Neguinho do Samba)

Para saber mais sobre a vida de Dona Canô, em 2011 fiz uma pesquisa demorada no acervo do jornal CORREIO (em que trabalhei, entre 2010 e 2011), em Salvador. As frases acima foram coletadas de ótimas reportagens publicadas pelo jornal ao longo de décadas e que foram muito bem preservadas no arquivo, organizado pela simpática e prestativa Graça
No dia 26 de dezembro de 2012, a matéria que escrevi foi publicada pelo CORREIO, acompanhando uma edição muito especial dedicada à matriarca dos Velloso, morta aos 105 anos.
O texto completo segue abaixo.










Marcadores: , , ,


PEQUENA GIGANTE


Por sua trajetória, Dona Canô (1907-2012) deixa exemplo de fé, força e doçura. Vinda de uma família humilde, a m
atriarca do clã Velloso viveu para a família e as coisas em que acreditava, como a religião. De Santo Amaro, a mãe de Caetano, Bethânia e mais seis rebentos afirmava que o segredo da vida era não querer muito


Por Franco Caldas Fuchs

Se no Brasil ela era conhecida como a famosa matriarca da família Velloso, na Bahia todos sempre souberam que Dona Canô era muito mais que isso. Transformada em figura pública, suas ações e opiniões tinham muita força. Até o fim, ontem, na sua querida Santo Amaro. Lúcida, ela se despediu do amigo  Jorge Portugal alguns dias antes de morrer: “Tô indo pro céu”.
Na ocasião do seu centenário, quando foi homenageada com um selo comemorativo dos Correios, o amigo  monsenhor Gaspar Sadoc resumiu muito bem a força de Claudionaor Viana Teles Velloso: “Quando eu pergunto lá fora quem é Canozinha, todo mundo responde que é a mãe de Bethânia e Caetano. Pois aqui em Santo Amaro, eles é que são filhos de Canozinha”.
Também os políticos, há  tempo reconheciam o seu poder de influência.  No aniversário dela de 90 anos, o ex-senador da Bahia Antonio Carlos Magalhães(1927-2007) destacou a importância da amiga. “A Bahia se regozija com uma vida a serviço de Santo Amaro e do povo baiano. Dona Canô é símbolo da Bahia, e um símbolo que produziu grandes nomes”, afirmou.
O governador Jaques Wagner, na ocasião do centenário de Dona Canô, também a proclamou símbolo da baianidade, e disse mais: “A fragilidade do seu corpo contrasta com o gigantismo da sua alma”.
Já a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tinham a santo-amarense em alta conta, devido ao apoio que ela sempre deu a eles. Dona Canô participou da campanha  de Dilma e recriminou Caetano quando ele fez comentários ofensivos a Lula.  “Marina Silva é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”, disse ele na época da última corrida presidencial.
Diante da polêmica, Dona Canô se manifestou. “Lula não merece isso. Quero muito bem a ele. Foi uma ofensa sem necessidade. Caetano não tinha que dizer aquilo. Vota em Lula se quiser, não precisa ofender nem procurar confusão”, disse. Pouco tempo depois, ela recebeu uma ligação de Lula, que pôs fim ao constrangimento. “Não fique chateada, preocupada, porque gosto muito da senhora e gosto do Caetano também".
Bandeiras 
Por saber do prestígio que tinha, Dona Canô sempre usou sua influência em prol da comunidade. Ela que, na juventude, viu o rio Subaé limpo, ao longo da vida reivindicou aos políticos a purificação daquelas águas, tal como o filho Caetano escreveu e Bethânia cantou em  Purificar o Subaé.  “Tenho amizade com os políticos, mas é amizade, amizade, política à parte”.
Ela também devotou muita da sua energia em prol da reforma da Igreja Matriz de Santo Amaro. A restauração em 1997 se deve muito a sua articulação. No campo religioso, Dona Canô se destacava por organizar tradicionais novenas como a de Santo Antônio, em junho, e a de Nossa Senhora da Purificação, em janeiro, ligada à Festa da Purificação, cujo cortejo partia da sua casa. 
A doçura de  Dona Canô sempre coexistiu com uma personalidade  forte, que se afirmou ainda mais após a morte do marido José Teles Velloso. Seu ‘Zeca’ faleceu em 13 de dezembro de 1983, aos 82, em decorrência de um câncer.
“Antes era igual, o que um e outro queria. Quando fiquei só, não tinha com quem igualar”, disse ao CORREIO em 2000. Dona Canô acompanhou a luta do marido até o fim. Foram  53 anos de convivência. “Ele morreu sentado,  dormindo. E eu pensava que ia primeiro”, afirmou.
Canô e Zeca se conheceram na juventude e  logo começaram a namorar. Casaram 15 dias depois que Zeca, agente dos Correios, recebeu a notícia de que seria transferido para Nazaré das Farinhas. Meses depois, de volta a Santo Amaro, foram morar num sobrado de três andares onde viviam 24 parentes de Zeca.
A casa era movimentada dia e noite, e os dois, que só se chamavam por “meu bem”, tinham sossego apenas aos domingos, quando ficavam sozinhos enquanto todos iam à missa.
Matriarca
Após alguns anos, o casal se mudou para o endereço onde Dona Canô viveu até morrer: a casa nº 179 na Rua do Amparo. Nesse espaço, ela e Zeca criaram oito filhos: Eunice, Clara Maria, Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia e Irene.
Sobre a arte de ser mãe, em 1998, ela afirmou: “A mãe Canô é uma pessoa simples, que nunca teve nenhuma pretensão a não ser criar seus filhos para o bem. Tive um marido maravilhoso que contribuiu para a educação deles. Hoje, eles são o que são, mas são ainda família”.
A matriarca também se orgulhava de ter respeitado sempre as escolhas de vida de cada um. “Nunca obrigamos nenhum filho a ser o que não queria. Cada um seguiu a carreira que quis”. E por mais que Caetano e Bethânia tenham concentrado a atenção da mídia, ela tratava todos de forma igual. “Os filhos são todos iguais. Nenhum é diferente, nenhum é melhor do que o outro. Podem ter naturezas  diferentes, mas filho é filho”.
O amor e a atenção que deu, ela sempre recebeu na mesma proporção dos rebentos, que passaram a vida lhe tomando a bênção. Bethânia, por exemplo, onde estivesse, lhe telefonava pelo menos duas vezes por dia, para saber como ela estava. Já o filho Rodrigo, 76,  lhe devotava tanto cuidado que Dona Canô o considerava um ‘pai’. “Ele já é mais velho do que eu, ele que toma conta de mim! Tudo meu é com ele, ele é quem fica mais responsável”.
Arte de viver
Exemplo para filhos, netos e bisnetos, Dona Canô revelou, em 1990, o seu segredo para viver bem: “É não procurar ter inimigos nem querer ser superior aos outros”. Da vida ela também sempre pediu pouco. “Nunca tive sonhos. Nunca disse quero isso, quero aquilo, e hoje tenho tudo”. Tais lições de sabedoria ela aprendeu principalmente com sua família.
Nascida em 16 de setembro de 1907, era filha de Júlia Vianna e de Anísio César de Olivera Vianna.  Foi Anísio quem escolheu o nome forte e masculino. O carinho da família, porém, o adoçou e ela virou Canô. De família humilde, só estudou até o primário.
Apesar da pouca instrução, cultura nunca lhe faltou. Lia até em francês, idioma que aprendeu na escola. Já a aptidão para a música era  natural. “As músicas antigas Caetano aprendeu comigo!”, contava. Já aos 90, ela que sempre gostou de cantar, entrou pela primeira vez em um estúdio , com mais 19 mulheres para gravar cânticos de louvor a Nossa Senhora da Purificação, trabalho lançado depois em disco.
“A música é a coisa melhor do mundo, suaviza e dá vontade de viver”, disse ela, que com uma simples frase a seu filho, em referência a Gil – “Caetano, venha ver aquele preto que você gosta!” – deu origem à canção Dona Canô Chamou, de Neguinho do Samba(1954-2009).
Nome de teatro há dez anos em Santo Amaro, e até de grupo musical luso-brasileiro, não há dúvida que seu apelido, pequenino e delicado como ela, será para sempre celebrado, evocando a senhora que personificou a bondade e a simplicidade.

Marcadores: , , ,

10 de dez. de 2012


PRAZER VOADOR
Há quem diga que elas servem para polinizar. Mas isso qualquer abelha operária faz melhor. Então, para quem ainda não sabe, vale informar: a função primordial das borboletas é oferecer prazer. Visual. Existencial. Como fazem as "Borboletas da Estação" cantadas e plasmadas em vídeo pelo MORDIDA. Prazer que bate asas por retinas e tímpanos, trazendo espanto. Epifania. Sorrisos. Afinal, é um legítimo "inutensílio" voador que se apresenta, como a poesia ou um gol do Zico, nas palavras do caçador-mor de lepidópteros Paulo Leminski. Aliás, repare: até o poeta xará do Nadal mete seu bigode nesse clipe cheio de camadas multicores, dirigido por Marcus Bonato.

(Para reler a matéria sobre o MORDIDA, publicada na revista Cartaz, clica nesse link 
http://francofonia.blogspot.com.br/2009_12_01_archive.html) 

Marcadores: , ,