27 de mar. de 2012

Retrato da vida mambembe
Espetáculo de rua Companhia Frazão estreia no Fringe com um retrato irreverente da vida dos atores itinerantes. Montagem do grupo paraense Cia. do Intérprete explora o uso de esquetes musicais nessa adaptação da comédia O Mambembe, de Arthur Azevedo

Fotos de Vanessa Vzorek/ Texto de Franco Fuchs

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Peleja contínua, a vida dos grupos mambembes não mudou nada desde que o ator grego Téspis, no século VI a.C., pôs pela primeira vez uma máscara e saiu com sua carroça fazendo teatro. Sempre na estrada, em busca de comida, pouso e espaço para se apresentar, eis também a realidade dos personagens de Companhia Frazão, espetáculo de rua que estreia na mostra Fringe, do Festival de Curitiba, no dia 6 de abril, às 13h, na Praça Santos Andrade. A peça fica em cartaz também no dia 7 às 15h, e no dia 8, às 15h e 17h, no mesmo local, com entrada gratuita.

A montagem do grupo paranaense Companhia do Intérprete é uma adaptação da comédia O Mambembe, de Arthur Azevedo (1855 - 1908). Considerada uma das principais obras do dramaturgo maranhense, o Mambembe fez sucesso especialmente com uma montagem dirigida por Giani Ratto (1916-2005) em 1959, que trazia no elenco atores como Fernanda Montenegro e Sérgio Britto (1923-2011). “O texto de Arthur de Azevedo foi escrito em 1904, e é impressionante como continua atual. Ao contar a história de uma companhia mambembe que luta para sobreviver, a peça mostra como ainda é muito difícil a situação de quem faz teatro no Brasil”, diz o ator e diretor Elderson Melo.

Adaptação para a rua
Responsável também pela adaptação da peça, Elderson transformou um enredo longo, repleto de quiproquós, numa história mais direta, porém não menos engraçada. “O texto original tem três atos e 12 quadros, e prevê papeis para nada menos do que 70 atores! Então tive que enxugar tudo isso para que quatro atores dessem conta de seis papeis, em um único ato.” Nesse recorte, Elderson manteve o que considerou os pontos chaves da peça: a chegada da Companhia Frazão na cidadezinha de Tocos e a relação do casal de enamorados Laudelina (interpretada por Fernanda Fuchs) e Eduardo (Elderson). Os dois, assim como os personagens Esmeraldina, Pantaleão (ambos interpretados por Helder Miranda), Frazão e Capitão (interpretados por Heidy Mayumi) possuem características de figuras da Comedia dell’ Arte, estilo teatral originado na Itália, marcado pelo uso de máscaras e da improvisação.

Musical irreverente

Outro destaque da peça é o grande número de cenas musicais, que mesclam diversos ritmos. Há desde sambas a uma ária extraída da Flauta Mágica de Mozart, passando pela folclórica La Bella Polenta, que embala uma verdadeira “dança da fome”, muito apropriada para ilustrar a realidade do ator brasileiro. “A peça é bem para cima e a música não podia fugir disso. Então queremos que as pessoas cantem, dancem, batam os pés e interajam com a gente!”, destaca o músico Daniel D’Alessandro, responsável pelos arranjos e pela trilha sonora ao vivo.

Entre uma música e outra e muita interação com o público, questões sérias sobre o cotidiano e o comportamento dos artistas são abordadas “de uma maneira leve e despretensiosa”, ressalta atriz Heidy Mayumi. “A nossa vontade era fazer uma montagem divertida e que, por ser de rua, atraísse um público bem variado”, completa o ator Helder Miranda.

Para a atriz Fernanda Fuchs, os artistas que assistirem ao espetáculo têm grandes chances de se identificar com a companhia retratada. “Se for parar pra pensar, a história da Companhia Frazão é parecida com a do nosso grupo. Nós também lutamos para conseguir patrocínios, também lidamos com políticos, então é como se ríssemos da nossa desgraça. Chorar não dá!”, brinca a atriz.

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SERVIÇO
Espetáculo
: Companhia Frazão, baseado em O Mambembe, de Arthur Azevedo
Grupo: Companhia do Intérprete (PR)
Direção: Elderson Melo e Hermisson Nogueira
Datas e horários no Festival de Curitiba: 6 de abril às 13h; 7 de abril às 15h; 8 de abril às 15h e 17h
Local: Praça Santos Andrade

Ingressos: Entrada gratuita

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Sobre a Companhia do Intérprete

Fundada em 2011, a Companhia do Intérprete reúne jovens atores e professores de teatro formados pela Faculdade de Artes do Paraná. Seus integrantes desenvolvem pesquisas voltadas especialmente para o campo da comicidade.

Sobre o dramaturgo Arthur Azevedo
Um dos maiores comediógrafos brasileiros, o maranhense Arthur de Azevedo (1855 - 1908) escreveu uma centena de peças. Entre as mais conhecidas estão A Capital Federal, Amor por Anexins e O Mambembe. Também foi jornalista e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras.

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ENTREVISTA COM A COMPANHIA DO INTÉRPRETE
Confira um bate-papo com os integrantes da Cia do Intérprete sobre a montagem de Companhia Frazão, espetáculo de rua criado a partir da peça O Mambembe, de Arthur Azevedo

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ELDERSON MELO, produtor, diretor, dramaturgo e ator

O que você pode comentar sobre o seu personagem?
Meu personagem é o Eduardo. Ele é apaixonado tanto pelo teatro quanto pela Laudelina, personagem com quem forma o casal de enamorados, típico da Comedia Dell’Arte.

O que é importante o público saber sobre a montagem? O texto de Arthur de Azevedo foi escrito em 1904, e é impressionante como continua atual. Ao contar a história de uma companhia mambembe que luta para sobreviver, a peça mostra como é difícil a situação de quem faz teatro no Brasil.

Como foi a adaptação dessa peça para a rua? Foi um grande desafio. O texto original tem três atos e 12 quadros, e prevê papeis para 70 atores. Então tive que enxugar tudo isso para que quatro atores dessem conta de seis papeis, em um único ato. Fiz um recorte, mas mantive o que, pra mim, eram os pontos chaves da peça: a chegada da trupe na cidade de Tocos, a relação do casal de enamorados e alguns contrapontos a eles. E depois veio a questão da montagem na rua. Tivemos dificuldade de pensar em como seria isso e, com a ajuda do ator e diretor Hermisson Nogueira, trabalhamos a corporeidade e a relação com o público em múltiplas direções. Para a montagem pesquisamos também a comicidade e trabalhamos com a construção de tipos, inspirados em modelos da Comédia Dell’Arte e da sociedade brasileira. Junto também vieram pesquisas com música e dança, que nos fizeram fugir bastante de uma estética naturalista.

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