19 de jan. de 2009

Artes plásticas)))
Pinturas de “B Boom”
João Osorio Brzezinski transforma seus drinks em quadros
Foto Maranhão

"Cerca Vó" (cerveja + meia dose de suco de caju + uma dose de vodka)

João Osorio Brzezinski é um homem de múltiplos talentos. Além de ser desenhista e pintor premiado, João já cantou e atuou (fez parte da primeira turma do Curso Permanente de Teatro do Guaíra). Também foi, na juventude, montanhista, quiromante e inventor do “antibigode” (certa época, deixou crescer um bigode sob o lábio inferior, “para mostrar como bigode era ridículo de qualquer jeito”). Durante anos, pilotou asa-delta (esteve entre os primeiros a praticar esse esporte no país), paraglider, ultraleve, monomotor e planador. Por último, aposentou-se como funcionário do Tribunal de Justiça do Paraná.

Recentemente, João mostrou mais uma de suas habilidades, ao expor, em drinks e telas, seu talento como barman, antes apenas conhecido por amigos. De outubro a novembro, o bar Cafezau recebeu a exposição intitulada “Osorio B Boom!”. Nela figuraram doze quadros cujos temas eram os drinks que o próprio pintor havia criado. Na estréia, o público também pôde experimentar todas essas bebidas que foram transformadas em quadros, como a “Cerca Vó” (cerveja acrescida de meia dose de suco de caju e uma dose de vodka) e o “Cura Saudade” (curaçau red, suco de meio limão, soda limonada e mel).

“É uma forma de imortalizar e difundir minhas receitas”, diz João sobre seus quadros. Em comum, todas as obras apresentam as “fórmulas” dos drinks escritas na tela e possuem alguma colagem com toalha de mesa ou estopa – marcas registradas do artista. (No passado, o uso freqüente do último material até lhe valeu o apelido de “Estopinski”, dado pelo amigo Jamil Snege).

Segundo Brzezinski, a paixão pela coquetelaria vem de longe. Desde os anos 60, na famosa Velha Adega, do polaco Victor Sieczko (que foi pioneiro na criação de estabelecimentos de estilo rústico na cidade, como a pizzaria Baviera e a casa de sopas Acrótona), João já experimentava coisas como a “Caipirinha de Steinhaeger”. De lá para cá, ele calcula ter bolado cerca de 20 drinks. “Misturar bebidas é como misturar tintas”, diz. “Quem tem esse senso de mistura, é capaz de combinar qualquer coisa: bebida, tintas, sabores e até sons.”

No bar do João

Foto Franco Caldas Fuchs


O visitante que entra no apartamento de João Osorio Brzezinski, ao mesmo tempo em que nota seus quadros pendurados em paredes coloridas, logo nota o portentoso barzinho que ele possui num canto da sala, fornido com toda a sorte de beberagens.

Prontamente, João apresenta algumas de suas preciosidades e inclusive oferece alguns tragos a este repórter. Dentre os uísques que mais se destacam em sua coleção, ele exibe um single malte Cardhu, edição limitada, de 27 anos e com 60% de álcool, e um Famous Grouse, de três décadas. “Esse eu comprei mais por causa da embalagem, que parece um caixão de vampiro”, diz.

Em seguida, João mostra um poire (destilado de pêra), o qual contém, para meu espanto, uma fruta grande e inteira dentro da garrafa. “Como a pêra passou por esse gargalo?”, pergunto a ele. “Para fazer isso”, explica João, “se amarra a garrafa nos galhos das pereiras. O broto da pêra então cresce ali dentro. Quem gostava muito de poire era o Ulysses Guimarães.”

Depois de mostrar uma dezena de bebidas curiosas, entre elas um destilado paraguaio chamado Aristócrata, vodka preta e absinto francês – sem esquecer do Fogo Paulista, que ele comprou para sua empregada –, por fim, João apresenta uma garrafa de tequila com uma larva podre boiando em seu interior. “Isso tem um gosto muito vagabundo”, diz ele sobre o Mezcal. “Guardo mais por curiosidade.” Quando questiono se a bebida com a larva não pode fazer mal à saúde, ele responde: “Bem, os mexicanos tomam. Eu tomei e não morri até hoje”.

Nos bares da cidade
Foto Franco Caldas Fuchs


A maioria das pessoas que gostam de beber preferem fazer isso fora de casa. Com João, não é diferente. Mesmo possuindo um arsenal de bebidas em seu lar, é comum encontrá-lo em diversos bares da cidade, como o Meninas dos Olhos, Plano B, Dom Max, Jacobina... “São tantos”, reconhece ele, “ainda mais que quase todo amigo meu tem um bar. É até difícil ir a todos”.

Mas mesmo prestigiando tantos estabelecimentos, João não deixa de criticá-los. Segundo ele, é difícil encontrar todas as bebidas que se quer, como certas cervejas importadas, por exemplo. Sem falar nos muitos drinks mal feitos e na venda de bebidas falsificadas. “Uma vez, peguei uma garrafa de Johnny Walker Black que estavam servindo. Mostrei os sinais de que ele era falso para o dono do bar”.

João então pega uma garrafa de uísque original e outra vazia do falsificado para me ensinar, uma a uma, as diferenças entre elas, até a mais gritante: o “Joãozinho Andador” indo da esquerda para direita na original, e fazendo o contrário na falsificada.

“Quer dizer que você também já caiu nesse conto-do-vigário?”, o provoco, apontando para a garrafa falsa que ele tem nas mãos. Não, ele responde, explicando que a ganhou de presente de um amigo. “E você disse a ele que era falsa?”, pergunto. “Disse, mas não teve problema”, lembra João. “Imagine que eu ia fazer desfeita. Tomamos tudo do mesmo jeito.”

Sobre João Osorio Bueno de Brzezinski
Foto Alice Varajão


Nasceu em Castro, PR, em 1941. Em 1962, formou-se em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde depois atuaria como professor por 28 anos. Na década de 70, foi diretor do Museu Alfredo Andersen e orientador no Centro de Criatividade de Curitiba.

Venceu 30 prêmios ao longo de sua carreira, em salões realizados em Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Campinas e São Paulo. Participou de inúmeras exposições pelo país, com destaque para a sua presença nas Bienais de São Paulo e da Bahia. No exterior, expôs trabalhos na Argentina, Paraguai, Estados Unidos e Japão. É citado em diversas publicações como o Dicionário de Pintura Brasileira, História da Arte no Brasil e o International Guide of Arts.


* Reportagem publicada na Revista Idéias n° 86

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