28 de dez. de 2012


DONA CANÔ FALOU:

Segredo para viver bem:
“É não procurar ter inimigos nem querer ser superior aos outros.”

“Nunca tive sonhos. Nunca disse quero isso, quero aquilo, e hoje tenho tudo.”


Ser mãe:

"A mãe Canô é uma pessoa simples, que nunca teve nenhuma pretensão a não ser criar seus filhos para o bem. Tive um marido maravilhoso que contribuiu para a educação deles. Hoje, eles são o que são, mas são ainda família. Nunca, em momento nenhum, prejudiquei meus filhos. Nem com castigo nem com pancada." 

“Os filhos são todos iguais. Nenhum é diferente, nenhum é melhor do que o outro. Podem ter naturezas  diferentes, mas filho é filho.”

"Nunca obrigamos nenhum filho a ser o que não queria. Cada um seguiu a carreira que quis."

Sobre música:
“As músicas antigas, Caetano aprendeu comigo!” 
“A música é a coisa melhor do mundo, suaviza e dá vontade de viver."
"Caetano, venha ver aquele preto que você gosta!"
(Frase dita a Caetano sobre Gil, e que deu origem à canção Dona Canô Chamou, de Neguinho do Samba)

Para saber mais sobre a vida de Dona Canô, em 2011 fiz uma pesquisa demorada no acervo do jornal CORREIO (em que trabalhei, entre 2010 e 2011), em Salvador. As frases acima foram coletadas de ótimas reportagens publicadas pelo jornal ao longo de décadas e que foram muito bem preservadas no arquivo, organizado pela simpática e prestativa Graça
No dia 26 de dezembro de 2012, a matéria que escrevi foi publicada pelo CORREIO, acompanhando uma edição muito especial dedicada à matriarca dos Velloso, morta aos 105 anos.
O texto completo segue abaixo.










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PEQUENA GIGANTE


Por sua trajetória, Dona Canô (1907-2012) deixa exemplo de fé, força e doçura. Vinda de uma família humilde, a m
atriarca do clã Velloso viveu para a família e as coisas em que acreditava, como a religião. De Santo Amaro, a mãe de Caetano, Bethânia e mais seis rebentos afirmava que o segredo da vida era não querer muito


Por Franco Caldas Fuchs

Se no Brasil ela era conhecida como a famosa matriarca da família Velloso, na Bahia todos sempre souberam que Dona Canô era muito mais que isso. Transformada em figura pública, suas ações e opiniões tinham muita força. Até o fim, ontem, na sua querida Santo Amaro. Lúcida, ela se despediu do amigo  Jorge Portugal alguns dias antes de morrer: “Tô indo pro céu”.
Na ocasião do seu centenário, quando foi homenageada com um selo comemorativo dos Correios, o amigo  monsenhor Gaspar Sadoc resumiu muito bem a força de Claudionaor Viana Teles Velloso: “Quando eu pergunto lá fora quem é Canozinha, todo mundo responde que é a mãe de Bethânia e Caetano. Pois aqui em Santo Amaro, eles é que são filhos de Canozinha”.
Também os políticos, há  tempo reconheciam o seu poder de influência.  No aniversário dela de 90 anos, o ex-senador da Bahia Antonio Carlos Magalhães(1927-2007) destacou a importância da amiga. “A Bahia se regozija com uma vida a serviço de Santo Amaro e do povo baiano. Dona Canô é símbolo da Bahia, e um símbolo que produziu grandes nomes”, afirmou.
O governador Jaques Wagner, na ocasião do centenário de Dona Canô, também a proclamou símbolo da baianidade, e disse mais: “A fragilidade do seu corpo contrasta com o gigantismo da sua alma”.
Já a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tinham a santo-amarense em alta conta, devido ao apoio que ela sempre deu a eles. Dona Canô participou da campanha  de Dilma e recriminou Caetano quando ele fez comentários ofensivos a Lula.  “Marina Silva é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”, disse ele na época da última corrida presidencial.
Diante da polêmica, Dona Canô se manifestou. “Lula não merece isso. Quero muito bem a ele. Foi uma ofensa sem necessidade. Caetano não tinha que dizer aquilo. Vota em Lula se quiser, não precisa ofender nem procurar confusão”, disse. Pouco tempo depois, ela recebeu uma ligação de Lula, que pôs fim ao constrangimento. “Não fique chateada, preocupada, porque gosto muito da senhora e gosto do Caetano também".
Bandeiras 
Por saber do prestígio que tinha, Dona Canô sempre usou sua influência em prol da comunidade. Ela que, na juventude, viu o rio Subaé limpo, ao longo da vida reivindicou aos políticos a purificação daquelas águas, tal como o filho Caetano escreveu e Bethânia cantou em  Purificar o Subaé.  “Tenho amizade com os políticos, mas é amizade, amizade, política à parte”.
Ela também devotou muita da sua energia em prol da reforma da Igreja Matriz de Santo Amaro. A restauração em 1997 se deve muito a sua articulação. No campo religioso, Dona Canô se destacava por organizar tradicionais novenas como a de Santo Antônio, em junho, e a de Nossa Senhora da Purificação, em janeiro, ligada à Festa da Purificação, cujo cortejo partia da sua casa. 
A doçura de  Dona Canô sempre coexistiu com uma personalidade  forte, que se afirmou ainda mais após a morte do marido José Teles Velloso. Seu ‘Zeca’ faleceu em 13 de dezembro de 1983, aos 82, em decorrência de um câncer.
“Antes era igual, o que um e outro queria. Quando fiquei só, não tinha com quem igualar”, disse ao CORREIO em 2000. Dona Canô acompanhou a luta do marido até o fim. Foram  53 anos de convivência. “Ele morreu sentado,  dormindo. E eu pensava que ia primeiro”, afirmou.
Canô e Zeca se conheceram na juventude e  logo começaram a namorar. Casaram 15 dias depois que Zeca, agente dos Correios, recebeu a notícia de que seria transferido para Nazaré das Farinhas. Meses depois, de volta a Santo Amaro, foram morar num sobrado de três andares onde viviam 24 parentes de Zeca.
A casa era movimentada dia e noite, e os dois, que só se chamavam por “meu bem”, tinham sossego apenas aos domingos, quando ficavam sozinhos enquanto todos iam à missa.
Matriarca
Após alguns anos, o casal se mudou para o endereço onde Dona Canô viveu até morrer: a casa nº 179 na Rua do Amparo. Nesse espaço, ela e Zeca criaram oito filhos: Eunice, Clara Maria, Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia e Irene.
Sobre a arte de ser mãe, em 1998, ela afirmou: “A mãe Canô é uma pessoa simples, que nunca teve nenhuma pretensão a não ser criar seus filhos para o bem. Tive um marido maravilhoso que contribuiu para a educação deles. Hoje, eles são o que são, mas são ainda família”.
A matriarca também se orgulhava de ter respeitado sempre as escolhas de vida de cada um. “Nunca obrigamos nenhum filho a ser o que não queria. Cada um seguiu a carreira que quis”. E por mais que Caetano e Bethânia tenham concentrado a atenção da mídia, ela tratava todos de forma igual. “Os filhos são todos iguais. Nenhum é diferente, nenhum é melhor do que o outro. Podem ter naturezas  diferentes, mas filho é filho”.
O amor e a atenção que deu, ela sempre recebeu na mesma proporção dos rebentos, que passaram a vida lhe tomando a bênção. Bethânia, por exemplo, onde estivesse, lhe telefonava pelo menos duas vezes por dia, para saber como ela estava. Já o filho Rodrigo, 76,  lhe devotava tanto cuidado que Dona Canô o considerava um ‘pai’. “Ele já é mais velho do que eu, ele que toma conta de mim! Tudo meu é com ele, ele é quem fica mais responsável”.
Arte de viver
Exemplo para filhos, netos e bisnetos, Dona Canô revelou, em 1990, o seu segredo para viver bem: “É não procurar ter inimigos nem querer ser superior aos outros”. Da vida ela também sempre pediu pouco. “Nunca tive sonhos. Nunca disse quero isso, quero aquilo, e hoje tenho tudo”. Tais lições de sabedoria ela aprendeu principalmente com sua família.
Nascida em 16 de setembro de 1907, era filha de Júlia Vianna e de Anísio César de Olivera Vianna.  Foi Anísio quem escolheu o nome forte e masculino. O carinho da família, porém, o adoçou e ela virou Canô. De família humilde, só estudou até o primário.
Apesar da pouca instrução, cultura nunca lhe faltou. Lia até em francês, idioma que aprendeu na escola. Já a aptidão para a música era  natural. “As músicas antigas Caetano aprendeu comigo!”, contava. Já aos 90, ela que sempre gostou de cantar, entrou pela primeira vez em um estúdio , com mais 19 mulheres para gravar cânticos de louvor a Nossa Senhora da Purificação, trabalho lançado depois em disco.
“A música é a coisa melhor do mundo, suaviza e dá vontade de viver”, disse ela, que com uma simples frase a seu filho, em referência a Gil – “Caetano, venha ver aquele preto que você gosta!” – deu origem à canção Dona Canô Chamou, de Neguinho do Samba(1954-2009).
Nome de teatro há dez anos em Santo Amaro, e até de grupo musical luso-brasileiro, não há dúvida que seu apelido, pequenino e delicado como ela, será para sempre celebrado, evocando a senhora que personificou a bondade e a simplicidade.

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11 de nov. de 2012

Tamo junto. O mago e eu. Meu conto “Casca-Grossa”, um dos seis textos vencedores do concurso de contos das Livrarias Curitiba, foi publicado este mês na edição da revista Ler & Cia, que traz Paulo Coelho na capa. Pra conferir, clica aí. http://www.livrariascuritiba.com.br/images/Revista/nov-dez/index.html

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19 de fev. de 2011

Artes Visuais)))

Seleta de reportagens sobre artes visuais publicadas no jornal CORREIO*




O paraíso para os artistas existe. E fica na Ilha de Itaparica. Chama-se Instituto Sacatar. Entenda só na matéria.



Matéria sobre a Residência Universitária da Ufba, no Corredor da Vítória, onde já moraram diversos artistas conhecidos como Joãozito e Baldomiro Costa. Reportagem mostra quem são os jovens artistas que moram lá hoje, como os artistas plásticos Fernando Bernardes e Cenildo Silva e o diretor teatral Eduardo Machado.

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15 de fev. de 2011

TEATRO)))Uma seleção de reportagens sobre teatro que saíram no jornal CORREIO*:


Perfil de Zé Celso, em turnê com o projeto Dionisíacas em viagem.






Reportagem sobre a peça Pólvora e Poesia, dirigida por Fernando Guerreiro.

Perfil de Márcio Meirelles.

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18 de mar. de 2010

Memória)))
O guardião da história do rádio
Perfilino Neto conta a história do rádio e celebra 50 anos de carreira


Usado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) pelas tropas americanas, um rádio de ondas curtas Hammarlund repousa intacto na “casa- museu” do radialista e jornalista Perfilino Neto, na Ladeira do Pepino, no Engenho Velho de Brotas. Assim como o precioso aparelho, Perfilino, 69 anos, até hoje se mantém em sintonia com as ondas radiofônicas da Bahia, do Brasil e do mundo. Completando meio século de carreira, ele continua apresentando programas na Educadora FM - Memória do Rádio e Encontro com o Chorinho - e segue firme como uma espécie de guardião baiano da história do rádio.

Aliás, invento que Perfilino defende ter sido criado pelo padre brasileiro Roberto Landell de Moura (1861-1928), e não pelo italiano Marconi (1874- 1937). O lançamento do livro Memória do Rádio (R$ 40/ 240 páginas) é mais um esforço para passar a história do rádio a limpo. Nesta quinta-feira (18), às 18 horas, o autor promove uma noite de autógrafos na loja de discos Pérola Negra, no Canela, com a presença esperada de músicos amigos como Luiz Caldas, Xangai e Roberto Mendes.

Predadores
O livro é o primeiro de outros volumes que virão, narrando passagens do rádio soteropolitano e também denunciando o descaso que a memória do rádio local tem sofrido. “Demorei um ano para escrever o material. Nele, revelo como a maioria dos diretores de emissoras foi e ainda é predadora do rádio”, afirma. Ele lembra, por exemplo, como uma série de entrevistas feitas pelo respeitável historiador Cid Teixeira foi para a lata do lixo. “Imagine... entrevistas de valor histórico feitas com Jorge Amado, mãe Menininha do Gantois, Glauber Rocha e outras personalidades. Tudo jogado fora, graças a um capricho de José Wilson, o coordenador da rádio na época, que achava esse material obsoleto. No Brasil, a memória vai para o lixo.”

Acervo rico
Perfilino, desde o início da carreira, fez questão de guardar todo o material que achava importante, montando um rico acervo próprio. Pelos seus cálculos, ele tem cerca de 18 mil LPs, 14 mil CDs, seis mil compactos de vinil e três mil fitas K-7. “A chegada do homem à Lua, Juscelino Kubitschek cantando serestas, Pelé dedicando o milésimo gol às crianças, o que você quiser de música ou documento radiofônico eu tenho”, garante.

Ele conta ainda que desenvolve um trabalho contínuo de digitalização de discos raros, transformando-os em mp3 e CDs: “Uso a tecnologia de softwares como o Sound Forge em prol da memória”. Perfilino é vidrado em rádio desde pequeno, quando seu pai trouxe para casa o primeiro Philips valvulado. “Meu pai era um radiomaníaco que não dispensava nem a Voz do Brasil. Como ele, logo fiquei fascinado pelo rádio. Aos 12 anos já sabia que seria radialista.”

Imbatível
O início na profissão foi aos 19, levado por um amigo locutor à Radio Cultura, onde ficou por 43 anos. “Comecei como operador, mas aos poucos estava fazendo de tudo: locução, reportagem e edição”. Na época, exigia- se muito dos futuros radialistas. Era preciso ter cultura geral, saber escrever e ter noções de vários idiomas. Bem diferente de hoje, quando as emissoras investem pouco na formação dos profissionais e muitas apelam para programas popularescos.

O pesquisador acha que, por mais que outros veículos ganhem espaço, o rádio vai se manter imbatível. “Afinal, a TV ou outra mídia visual cobra a presença das pessoas, e o rádio não. Você pode ouvi-lo enquanto está fazendo outras coisas. Lavando louça ou dirigindo, por exemplo.” Na opinião de Perfilino Neto, o rádio também aproveita a modernidade para mudar suas ferramentas, usando o celular e a internet como aliados. Mas, em essência, continua o mesmo.

Encontros com Gonzagão e o papa
Estar em contato com uma porção de artistas e personalidades é para Perfilino Neto uma das melhores coisas de ser radialista e jornalista. “Ao longo de 50 anos de carreira, pude conhecer vários ídolos meus, como Cartola, Moreira da Silva e Jackson do Pandeiro”, lembra o radialista, que também é pesquisador da MPB.

As lendárias rainhas do rádio Emilinha Borba e Marlene também foram entrevistadas por ele: “Impressionante como elas eram simples e acessíveis, bem diferente das estrelas de agora. Os artistas de hoje são muito vaidosos e é uma tremenda dificuldade para falar com eles. Há sempre um empresário ou um segurança no meio”, afirma. Mas, de todas as personalidades, ele destaca o seu encontro com Luiz Gonzaga, em 1974, e com o papa João Paulo II, em 1980.

“Luiz Gonzaga era o ídolo da minha infância, que eu tanto ouvia em Juazeiro. E, quando o entrevistei, fiquei deslumbrado. Já no início da conversa ele começou a brincar comigo. Tirou até sarro do meu nome: ‘Oxe, Perfilino, que nome esquisito! Vou te chamar só pelo teu sobrenome Ferreira Neto’, disse”. A empolgação com o papo foi tão grande que Perfilino conversou com o rei do baião por quatro horas. “Até que ele parou e me disse: ‘Ferreira Neto, seu cabra da peste...’ Aí senti que já era hora de parar.”

Já o encontro com o papa João Paulo II quase lhe rendeu uns safanões.“Na inauguração da Igreja de Nossa Senhora dos Alagados, ao me aproximar do papa para fazer uma pergunta, um segurança de repente me ergueu pelo colarinho. A sorte é que o papa viu aquilo e intercedeu por mim. Nesse meio-tempo, ainda consegui fazer uma pergunta sobre o que ele achava da reforma agrária na América Latina.”

Serviço:
Livro: Memória do Rádio. Autor Perfilino Neto. Editora Couto Coelho. Preço R$ 40 (240 págs.)
Lançamento: Hoje, às 18 horas, na loja Pérola Negra. Rua Marechal Floriano, 28, Canela
Publicado no jornal CORREIO, em 18/03/10

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17 de mar. de 2010

Artes)))
A OUTRA FACE DO PAISAGISTA
Mais conhecido por seus projetos paisagísticos, Roberto Burle Marx (1909 - 1994) também foi um artista plástico de mão cheia. Na mostra que estréia hoje, na Caixa Cultural Salvador, é possível conferir litografias, gravuras em metal e desenhos do artista

A litografia Itaituba é uma das obras da mostra O Gravador Roberto Burle Marx-Atelier Ymagos

Considerado o inventor do jardim moderno brasileiro, o arquiteto Roberto Burle Marx (1909 - 1994) ainda é mais conhecido por seu trabalho como paisagista. São de sua autoria, por exemplo, os jardins do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro; do Eixo Monumental de Brasília; e do Centro Administrativo da Bahia, em Salvador. Poucos lembram, porém, como este paulistano - que passou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro - foi um artista múltiplo, atuando também como pintor, escultor, ceramista, tapeceiro e gravador.

É esta última faceta do artista que o público poderá conferir na exposição O gravador Roberto Burle Marx - atelier Ymagos, aberta para visitação gratuita a partir de quarta-feira, na Caixa Cultural Salvador. Inédita na cidade, a mostra reúne 84 obras produzidas por Burle Marx ao longo de nove anos no atelier paulistano Ymagos. “Em São Paulo e Brasília, por onde passou anteriormente, a exposição fez bastante sucesso por mostrar um lado do Burle Marx que muitos desconheciam”, conta o curador da exposição Sérgio Pizoli.

Ele esclarece que a maioria das peças que serão vistas na Caixa Cultural até o dia abril são feitas em litografia - técnica em que o artista primeiro desenha em tons de preto sobre uma pedra porosa, e só aplica cores na hora de imprimir o desenho em papel -, mas há também gravuras em metal e desenhos em bico de pena.

Grande parte dos trabalhos são imagens abstratas, e apenas três são figurativas. “Como muitos artistas, Burle Marx começou fazendo imagens que representavam objetos ou lugares reais, mas aos poucos foi sentindo a necessidade de ultrapassar a realidade comum, avançando para o abstracionismo", explica Pizoli. Dos trabalhos figurativos, o visitantes irão encontrar apenas três litografias baseadas em paisagens florestais - “verdadeiras obras primas”, na opinião do curador.

Obra aberta
As demais obras da exposição são marcadas por um "abstracionismo lírico” - nas palavras de Pizoli -, em que formas geométricas também apresentam traços figurativos. "Na litografia Luzes da Noite, por exemplo. É uma abstração. Mas você realmente tem uma visão de uma paisagem noturna. Na verdade, o bacana desses trabalhos é que são obras abertas, e no fim cada um vai enxergar uma coisa diferente, de acordo com a sua vivência."

Pizoli ressalta ainda que há obras presentes na mostra que guardam semelhança até mesmo com projetos de jardins de Burle Marx. "É como se tivéssemos plantas baixas, isto é, visões aéreas daquelas paisagens que ele projetava."

Cores e tons
O intenso jogo de cores é outra das principais marcas da mostra. "Utilizando uma técnica difícil como a litografia, é impressionante como ele extraía uma infinidade de efeitos visuais. Quem for à exposição verá então uma grande trama de cores e tons", adianta Patrícia Motta, uma das proprietárias do atelier Ymagos, e que inclusive conviveu com Burle Marx ao longo dos anos 80.

Energia de garoto
“Burle Marx transformava o nosso atelier em uma festa”, lembra Patrícia. “Ele estava sempre cantando, era amigo de todos os impressores e trazia flores exóticas do Rio de Janeiro, só para decorar o ambiente", diz ela, que destaca ainda a inteligência e vitalidade do artista. "Na última fase da vida dele, com mais de 80 anos, ele trabalhava com a energia de um garoto. E ainda fazia expedições com os amigos, para colher plantas e levar mudas para o seu sítio no Rio de Janeiro.”

A paixão pela natureza, que se veria refletida na maioria das obras de Roberto Burle Marx, surgiu cedo na vida do artista e paisagista. Quando criança, foi com a mãe Cecília Burle, uma pernambucana de origem francesa, que Roberto aprendeu a gostar da flora brasileira, acompanhando Cecília no cultivo dos jardins de casa.

Ecologista

Durante o período em que morou com a família na Alemanha - país de origem de seu pai Wilhelm Marx -, entre 1928 e 1929, o interesse pela botânica se intensificou ainda mais. “Foi visitando um jardim botânico na Alemanha, que continha vários exemplares da vegetação brasileira, que ele se descobriu como paisagista e como pesquisador da botânica", diz Sérgio Pizoli.

Daí em diante, esta área da biologia seria alvo constante de seus estudos ao longo da vida - a ponto de Burle Marx descobrir e batizar novas espécies de plantas, como Anthurium burle-marxii e a Begonia burle-marxii.

De acordo com o curador Sérgio Pizoli, graças à paixão pela natureza, Burle Marx se colocou como um dos primeiros artistas brasileiros a levantar sua voz e erigir uma obra contra a devastação do meio ambiente. "Onde está o homem está a destruição", chegou a escrever ele em uma carta de protesto contra a devastação da Amazônia em 1983.

A força exuberante do "verde" propagada por Burle Marx em seus projetos viraria até motivo de brincadeiras do escritor Nelson Rodrigues, que reclamava do "verde obsessivo, apavorante, alucinatório", do paisagista. "Os jardins de Burle Marx não têm flores. Têm grama e não flores. Mas, para que grama, se não somos cabras?", galhofava Nelson.

Modernismo
Ao lado de arquitetos como Lúcio Costa (1902-1998) e Oscar Niemeyer (foi amigo de ambos, e inclusive estudou com Niemeyer na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro), Roberto Burle Marx também esteve à frente da arquitetura moderna no país.

Dentre seus principais feitos, criou o primeiro Parque Ecológico do Recife (em 1937), assim como foi responsável pelo projeto paisagístico do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1955) e do jardim do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte (1953).

PROJETOS DE BURLE MARX EM SALVADOR

Projeto da praça Terreiro de Jesus, no Centro Histórico
Também em Salvador, Roberto Burle Marx desenvolveu diversos projetos paisagísticos entre as décadas de 50 e 80. Dentre os mais importantes estão o projeto da praça Terreiro de Jesus, diante da Catedral Basílica, no Centro Histórico, e os jardins do Centro Administrativo e da avenida Luís Viana Filho, mais conhecida como Paralela.

Quem informa é o arquiteto Haruyoshi Ono, que trabalhou com Burle Marx por quase 30 anos. Ono diz que o escritório do paisagista também desenvolveu projetos para condomínios e hotéis da cidade, a exemplo do Othon Palace. Ele lamenta, porém, que a maioria dos projetos criados por Burle Marx esteja descaracterizada. "As estruturas dos espaços muitas vezes até permanecem, mas a vegetação original normalmente é alterada." Segundo Ono, a situação se repete em muitas outras cidades. "Até mesmo no Rio, onde Burle Marx passou a maior parte da vida, os projetos originais dele não são respeitados."


Publicado no jornal CORREIO em 16/03/10

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6 de mai. de 2009

SOBRE VINHOS E CACHORROS,
CORRIDAS E OVÁRIOS...

Links para algumas de minhas reportagens que saíram de março a junho no jornal Gazeta do Povo. Os temas, como já mencionei no título desse post, são os mais díspares.

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/animal/conteudo.phtml?tl=1&id=873472&tit=Muito-mais-que-uma-voltinha-na-quadra

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/bomgourmet/conteudo.phtml?tl=1&id=875754&tit=A-melhor-companhia-para-o-bacalhau

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=873046&tit=Corrida-posta-a-prova

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=883304&tit=Malhacao-em-ritmo-acelerado

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=892717&tit=Adeus-as-roupas-mofadas

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=873035&tit=Disfuncao-que-afeta-o-corpo-todo

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14 de fev. de 2009

Comportamento)))
Suspensão corporal
Foto: Addiction Arts

Leia no Jornal TiraGosto a entrevista que fiz com Rafael de Lima, o precursor da arte dos ganchos em Curitiba:

http://jornaltiragosto.blogspot.com.br/search/label/suspens%C3%A3o%20corporal

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Aproveita e saca essa seleção de matérias especiais no Jornal TiraGosto:



Jornal TiraGosto visita o museu do IML em Curitiba
http://jornaltiragosto.blogspot.com.br/search?q=iml


Boca do Palhaço. Amarildo e sua saga para obter um prato de comida no Restaurante Popular de Curitiba 
http://jornaltiragosto.blogspot.com.br/search/label/boca%20do%20palha%C3%A7o

O break no Itália
http://jornaltiragosto.blogspot.com.br/search/label/especial%20Break

Bundas na Biblioteca. Uma exposição Tabu, de Bel Corrêa
http://jornaltiragosto.blogspot.com.br/search/label/tabu


Nas trilhas de Buffalo Bill. Curitibanos praticam enduro equestre em São Luiz do Purunã
http://www.jornaltiragosto.com/blog/?tag=enduro-equestre

Edmar Freitas bate recorde mundial de abdominais no meio da praça Rui Barbosa
http://www.jornaltiragosto.com/blog/?p=308
http://www.jornaltiragosto.com/blog/?p=310

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